No claro-escuro do quarto, suas formas chamavam meu corpo para a entrega ao seu calor, o abandono ao seu abraço, o esquecimento da vida lá fora com suas exigências e tensões. Mal desperto, insone, não conseguia abandoná-la, ignorar seu mudo mas irresistível apelo. Eu vacilava entre o dever que impunha deixá-la e sair para o mundo e o debruçar-me ao seu envolvimento e tudo esquecer.
Cambaleante, fui recolhendo a roupa retirada às pressas e sem cuidado jogada pelo chão quando nos encontramos no início da noite. Ao sentar-me para calçar os sapatos, cedi à tentação: voltei para a sua maciez generosa.
Cedi a seu chamado, entreguei-me ao abraço de minha cama e logo caí no sono preguiçoso de que tanto precisava.
(*) Série “Retratos Vulgares”