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Cronicas-->Aprendendendo com Quem Sabe -- 29/07/2004 - 18:10 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

APRENDENDO COM QUEM SABE
(Por Domingos Oliveira Medeiros)

Os gênios, dizem os mais entendidos, são aquelas pessoas dotadas de capacidade mental criadora, em todos os sentidos, e que, em tese, poderiam nos ensinar muita coisa. Mas há, no meu modo de ver, um ponto curioso a respeito dos gênios ou da genialidade, para ser mais preciso.

Acredito que a genialidade seja um atributo natural, de caráter mais específico do que genérico. Ou seja: a genialidade concentra-se sempre em algo específico, vale dizer, num determinado ramo de conhecimento. Pelo menos não conheço nenhum caso em que a genialidade abarque uma gama considerável de habilidades ou conhecimentos diversos. pessoa. Até hoje, portanto, não sei de gênio que tenha sido marcado peoa generalidade; que jogue em mais de uma posição, para traçar um paralelo com o nosso futebol. Nunca soube, por exemplo, de que Santos Dumont soubesse ou tivesse capacidade para compor música clássica e tocar piano como Beethoven. E, vice-versa, em relação à capacidade do referido compositor para inventar aviões e resolver equações de geometria espacial, por exemplo.

Talvez a explicação para o fenómeno de certas pessoas possuírem dons especiais de inteligência encontre guarida na filosofia espírita, segundo a qual os gênios seriam pessoas superiores, reencarnadas, e que já trazem consigo a bagagem de conhecimentos acumulados em outras vidas; em outras passagens por este planeta. Pode até ser. Faz sentido.

Todavia, é bem verdade que não se depende, apenas, dos gênios. Para que as pessoas possa aprender algo e desenvolver suas próprias capacidades ditas inferiores. Temos sempre o que aprender com os outros. E o que ensinar, também.

E essa troca não se dá, tão-somente, entre os seres humanos. Se bem que, entre nós, seres pensantes, a coisas flui com maior intensidade, face ao fato de que somos únicos. Cada um de nós é diferente de todos. Não existe no planeta uma só pessoa que seja exatamente igual am outra. Daí a intensidade de troca de conhecimentos. Que os une, por assim dizer, posto que sempre necessitamos de aprender alguma coisa com alguém.

Mas, voltando ao que ficou insinuado no parágrafo anterior, na verdade não se aprende apenas com os homens. Aprendemos com todas as coisas deste mundo. Aprendemos ctudo: com as pessoas, com os dias, com as noites, com as chuvas, com os ventos, com as flores; e, até mesmo com outros seres vivos, como os cães, por exemplo, para nos situarmos no campo daquele que é considerado o nosso melhor amigo.

Semelhante à muitas pessoas, eu tive a oportunidade de criar vários cachorros que hoje fazem parte de minhas lembranças e do rol de meus grandes e fieis amigos. Uns mais, outros menos; entretanto, todos eles, sem exceção, dedicados, brincalhões, atenciosos e com os quais muita coisa aprendi.

O último casal de amigos, digamos assim, chamava Rambo e Laika. Um casal da raça Fila Brasileiro. São grandes e bons companheiros. Melhor dizendo, seram: a Laika faleceu, recentemente. Doença agravada com a idade. Rambo ficou viúvo por pouco tempo. E já está com outra Laika no canil. Da raça Pastor Alemão. Mas a história que vou contar refere-se ao primeiro "casamento".

O Rambo é mais jovem do que a Laika. E seu humor também é melhor do que o dela. Ele é ciumento, um pouco egoísta, mas bom vigia. Em pé, segurando pelas patas dianteiras, chega a medir um metro e setenta, mais ou menos. Conheço-o muito bem. Sei quando precisa de afeto, sei quando não está para brincadeiras; e sei quando está com algum problema. Sua fisionomia e seu comportamento facilita o diagnóstico. O olhar, o balançar de rabo, a posição das orelhas, o tipo de latido, tudo são amostras de sua personalidade; sintomas que desvendam seu estado emocional, seu comportamento e suas atitudes.

Do mesmo jeito que a Laika. Não sei se porque mais velha,, o fato é que a Laika é mais séria. Exerce uma liderança maior dentro e fora do canil. E até nós, os donos, sabemos disso. Com a Laika tem que ter atenção redobrada. Ela toma decisões que nos pega de surpresa. E, às vezes, não são decisões muito agradáveis. Se ela não gostar de uma criança, por exemplo, mesmo que estejamos por perto, ela é capaz de burlar a vigilància e mordê-la.

Enquanto o olhar do Rambo é franco, aberto, transparente, o da Laika sempre deixa uma incógnita. Não sabemos, com certeza , o que ela estaria pensando em determinados momentos.

Mas eles, na maior parte do tempo, nos dão alegrias. Brincam entre eles, na nossa frente, como crianças; fazem gracinhas para nos agradar. É nestas horas que surgem os ciúmes. Se a gente demora mais um pouco alisando a cabeça de um deles, o outro vai e lhe dá uma mordida e assim começa uma pequena briga ou uma nova brincadeira, não se sabe ao certo. Igual a criança.

À noite, abrimos o canil, e começa o trabalho de vigilància do terreno da casa. Uma casa pequena, modesta, construída num pequeno terreno de cinco mil metros quadrados, que apelidamos de chácara "Dois Irmãos".

Nesta hora, da abertura do canil, a fisionomia do Rambo muda por completo. Ele fica mais sério, como que assumindo ares de um adulto responsável e ciente de suas obrigações. Pelo menos é essa a impressão que ele nos passa.

E mostra serviço: latindo por qualquer vulto ou por qualquer barulho estranho que veja, pressinta ou fareje. Já a Laika é mais silenciosa. Mais metódica. Planeja suas ações. Dá um passeio geral por toda a chácara e senta-se à frente da casa. Só emite latidos em casos de comprovada necessidade.

Um dia desses, tive que levar a Laika para o médico. Estava muito mal. Foi quando eu vi o quanto eles se gostavam. Rambo chorava, emitindo um latido tão sofrido que fiquei impressionado. A Laika ficou três dias internada. E o Rambo não se alimentou direito; perdeu peso e ficou mais triste. Só melhorou com o retorno da Laika. Correu para abraçá-la e, depois de "conversar" , acredito, sobre o tratamento que teria feito,. Reiniciaram a correria e as brincadeiras, numa troca de afagos entre tapas, mordidas e beijos.

E o olhar da Laika, para nós, depois desse fato, parece que mudou um pouco. Ganhou ares mais acentuados de agradecimento pelo que nós fizemos por ela. E assim ficaram mais algum templo entre nós.

A Laika, como disse anteriormente, veio a falecer. O Rambo não teve nem tempo de ficar triste com a viuvez: de imediato, arranjamos-lhe uma parceira, como já foi dito, que não perdeu tempo, deu-lhe cinco filhas.

Logo em seguida, apareceu um senhor de uma chácara vizinha, trazendo um filhote de da raça Fila Brasileiro, dizendo que era fruto do cruzamento do Rambo com a sua cadela, conforme havia prometido. Confesso que nem me lembrava desse "caso" do Rambo. Mas gostei da novidade. Serviu para esquecer a perda da Laika.

O canil, em instantes, voltou a ficar cheio de vida. E o Rambo, viúvo e de nova paixão, com seis filhos para criar, talvez não tenha tanto tempo para lembrar-se da antiga companheira. Pelo menos com tanta saudade.

Desse modo, é que a vida nos vai ensinando. Aprendendo até com os animais: aulas de psicologia, relações humanas, planejamento e administração, responsabilidade no trabalho, segurança, respeito e confiança, enfim, carinho, afeto e lealdade, ainda que pela via do balançar de um rabo, do movimentar de orelhas, de um bafo quente e molhado do focinho de um grande amigo.


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