ÓRFICOS MISTÉRIOS
Meus pesadelos órficos de criança
eram povoados de espectros reptilianos imensos,
talvez instigados nas histórias de aves atrópteras...
Surgiam pesadelos nas minhas noites de agonia.
Mesmo na vigília, repercutia-se as cenas,
Repetia-se perversamente a suscitar apatia.;
Vicejando no espírito incongruências do mal.
Era o meu tormento de todos os dias!
Anos depois, passados e olvidados,
Ressurgia as cenas, tal qual aqueles dias.
Repetindo os momentos de terror
que o outro mundo reservou pra mim.
Madrugada fria..., chuva torrencial...
Sacudia-me a alma, o corpo se me tremia...
Imaginar terror de um aulido animal,
Que bramia selvagem rondando-me a alma!
O medo se me encobria, clima adstringente,
Rumorejante..., sibilava... ave rapina.
Augure das noites de suprema agonia,
Obscurecia a casa da colina!
Examinei a parede..., luz intermitente...
Luciluzida na janela. - Seria uma cruz?
Sombras rutilantes de terror,
No aposento escuro..., aparente!
Perscrutei o olhar, como um louco ancipital,
Novamente voltei..., atinava uma distração...
Ponderava: -“Deus existe? Seria corporal?
“Seria o Criador corpóreo, ou ilusão”?
Existe mesmo um Deus de toda vida?
indiquei velho poema de meu pai,
Quando leve sussurro despertou-me. Denodo e calmo auscultei:
Algo na sala sai. Um grito enfático.
-Quem é? - É por acaso algum ancestral, ou
vem das profundezas abissais?
Como a qualquer ser natural, disse-me a voz:
“-Tuas provações sequer iniciam e recuas...
Queres pedir..., recusas..., partais?”
Compreendi de pronto, a entidade benfazeja
falava em adejo... e desde aquela idade
pedia-me caridade, e o medo aquiesceu!
Custódio, pois era este o seu nome, fora frade,
guardião dos oprimidos. Espanha do Santo Ofício.
A prisão... décadas de torturas... pobre padre!...
Quando evento da história, conspurcada,
Fora ele queimado vivo.; eis a vitória.
A vitória do Cristo... buscada na sobrevivência da alma.
Hoje, me acalma e me fala ao coração.
Sustenta-me a oração e ampara-me a alma.
Picos, agosto de 2007
Douglas Nunes
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