NO TEMPO CERTO
O dia esperado chegou. Finalmente, o filhote do lebrão ia sair da toca com o pai, para o primeiro passeio de lição de vida.
A mãe como sempre estava nervosa, e repetiu o que fez nos últimos dias, enchendo os ouvidos do filho de toda espécie de medo e recomendações:
_ Filho, cuidado com a onça!... Não ande perto do riacho, que tem sucuri!... Ande o tempo todo junto com seu pai!...
Mas mesmo com os receios naturais de mãe, ela confiava na sabedoria e esperteza do pai do seu filho.
Já na mata, pai e filho, seguiam calados. E foi o filhote quem falou primeiro:
_ Pai, estou com fome!
_ Calma, que logo encontraremos comida, filho. Você vai ver que a mata está cheia de comida, mas é preciso ter cuidado com as armadilhas...
_ Armadilha, é um bicho, pai? Minha mãe não falou desse...
_ Não filho, armadilha é um golpe.
_ Que é golpe, pai?
_ Calma que eu vou te ensinar o que é uma armadilha.
_ A minha mãe disse que você vai me ensinar a cavar buracos para encontrar raízes também.
_ Tudo na hora certa, filho. Você vai aprender tudo na hora certa.
_ Pai, minha mãe falou que a mata tem muito animal perigoso. Qual o mais perigoso? Ela falou do gavião, da onça, do lobo, da sucuri...
_ Não filho, esses animais não são maldosos assim como dizem. Eles só atacam porque precisam sobreviver como nós precisamos... O animal mais perigoso, é o homem. É impossível se livrar dele. Ele não mata para sobreviver... mas pelo prazer de matar. Já ouvi dizer que ele acaba com tudo por onde passa. Dizem que não escapam animais terrestres, nem peixes, e nem os que voam... Dizem que ele nem precisa chegar perto para matar. Tem armadilhas que matam de longe.
_ Pai, o homem engole a gente sem chegar perto da gente?...
_ Mais ou menos assim, filho... é um bicho muito perigoso. Ele tam armas, armadilhas e cospe fogo de longe...
O filhote se encheu de medo. Lembrou de uma história de um dragão que sua avó contou. O homem devia ser como um dragão...
_ Pai, estou com medo do homem!...
Andaram mais um pouco, e a barriga do filhote roncou de fome. De repente, seu coraçãozinho pulou de alegria, quando avistou raízes, já colhidas, e amontoadas num mesmo lugar.
_ Pai, olha o tanto de raízes!...
_ Isso é que é uma armadilha, filho. É assim que os homens pegam os animais sem ser preciso chegar perto deles. Veja que acima do monte de raízes, tem um cesto. Quando o animal vai comer as raízes, é preso por ele.
O filhote não entendeu, mas lembrou que sua mães dizia que seu pai era sábio e esperto.
Recomeçaram a caminhar, quando ouviram um rugido.
_ Que é isso, pai? É um homem?
_ Não filho, é uma onça.
_ Minha mãe disse que era para fugir da onça...
_ Mas não dá mais tempo, filho. Ela está muito perto. Vamos para a armadilha do homem.
O filhote não entendeu. A pouco, o pai disse que o homem era mais perigoso. Mas nem deu tempo de discutir, porque foi puxado violentamente pelo pai para o monte de raízes. Assim que tocaram as raízes, o cesto caiu, e ficaram presos.
Pouco tempo depois a onça chegou. Rugiu e rodeou o cesto, e o filhote ficou apavorado, a abraçava o pai com medo de ser devorado como sua mãe falou. Mas ela não conseguia alcança-los.
_ Fique tranqüilo, filho. Aqui dentro, ela não nos alcança. E já que estamos aqui, vamos comer.
E comeram e se fartaram das raízes.
Algum tempo depois, ouviram vozes. A onça também ouviu, e fugiu do lugar.
_ As vozes são dos homens.
_ E agora eles vão nos comer?
_ Não filho. Eu não disse que tem tempo para tudo? Está na hora exata de te ensinar como é que cava buracos.
E cavaram, e fugiram antes que os homens chegassem...
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Adelmario Sampaio
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