Uma boa lembrança é aquela em que mentalmente vemos em cores. Muitas cores.
Para que isso aconteça, a vivência foi vivida no mais amplo espectro das cores disponíveis.
As boas lembranças são aquelas que queremos lembrar. O melhor é sempre vermos nossas vidas recheadas de cor.
São aquelas que queremos ficar deliciando, assim como degustamos bolo de chocolate ou qualquer outra comida que gostamos.
Tem vezes que pensamos estar atravessando o arco-íris, e de repente o "terror" se instala.
De rosa à pink, passamos a enxergar apenas preto.
E nos perguntamos porque o colorido de nossas vidas se foi sem autorizarmos, dando lugar a negritude mais parecendo morte que vida.
Um túnel escuro parece nos envolver, sem que possamos ver a saída, até porque no escuro não vemos nada.
Por outro lado, existem momentos em que as cores somem sem nossa autorização e dão lugar a um vazio. Onde nenhuma cor se faz presente e nos impede de identificar se existe alguma cor.Seja ela qual for. Eu diria que no lugar do preto, surge "UM BRANCO" que nos faz esquecer de tudo e nos impede de ver.
Pois é. O branco que nossa memória sofre pode ser inconscientemente proposital, quando queremos deixar de ver. Quando não queremos encarar.
É por isso que quando "dá branco", a gente não tem lembrança nenhuma, o que eu diria que é pior do que ver tudo escuro. Pelo menos o escuro nos leva a querer encontrar a luz .E o branco não tem tenacidade, confunde-se com o pano de fundo que estamos vivendo e nos impossibilita de captar ao menos um sinal de como retornar ao mundo das cores.
A ansiedade em querer sair rápido de casa, por exemplo, para resolver algum problema nos impede de encontrar a chave do carro. Curioso, porque bem neste momento nossa memória não funciona? Porque a lembrança de onde a deixamos foi embora?
E uma chave de um carro é uma coisa pequena, miúda, mas que pode nos ser útil em momentos cruciais de nossas vidas.
Eu diria que nos momentos em que a gente realmente precisa, seja no escuro, no claro ou na mistura das duas- mistura essa que confere à vida seu verdadeiro sentido- a nossa memória funciona e as lembranças necessárias, boas e ruins, vem a tona para nos ajudar a seguir adiante.
Inclusive, se for a chave do carro, o adiante será levado a cabo na essência da palavra.
O colorido de nossas vidas depende também de nossa capacidade de refletirmos nosso passado repleto delas.
Isso indica que nós, enquanto autores de nossas auto-biografias , estamos assumindo e deixando nossas marcas. Seja ele um passado negro ou não, registra-lo( e não omiti-lo) em nossas memórias eu diria que é o alimento básico para que um mundo colorido se instale, nem que seja mais adiante.
Nem que precisemos nos esquecer muitas e muitas vezes a chave do carro, um dia a gente se surpreenderá com nossa própria memória.
Esse "instantàneo funcionamento" de nossa memória pode indicar que antes não era hora para que saíssemos de carro na rua. Porque talvez alguma coisa, não sei bem o que, pudesse acontecer.
Será que o "branco", ou a falta de cor, não é um "toque" de Alguém para que paremos e valorizemos descentemente a vida?
Comece a colorir a memória e pense nisso.
