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Contos-->AS ÚLTIMAS ÁGUAS -- 31/08/2006 - 08:27 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
AS ÚLTIMAS ÁGUAS


Era 9 de julho. Durante o inverno, domingo de Copa do Mundo. Como de hábito, saí em busca de algo, talvez somente uma cerveja, uma conversa com um amigo. A vontade de beber, genérica, instou-me a procurar o companheiro, cúmplice desse xarope de malte, levedo, cevada. E há freqüentemente um pretexto bobo, mas pretexto, para se sorver, ingerir o domingo, véspera da mesmice da segunda-feira. Depois de algumas libações pouco exigentes, buscamos o bar da pista, na esperança de que a França, com Zidane e seus asseclas, pudessem configurar um campeonato mundial, sobre uma Itália ansiosa, inquieta para conferir e contemplar o tetra-campeonato. Sentamo-nos à margem de uma mesa próxima à tv, de modo que se pudesse ver, mesmo em parcas 14 polegadas, os gols tão esperados. Na outra mesa, sentadas ao redor de um livro da Marta Suplicy, estavam as duas moças, uma mulata bem sestrosa e uma de pele branca, alta, elegante, de nariz empinado. A mulata falava copiosamente, como se estivesse passando a limpo notícias de uma longa ausência entre ambas. Sorviam paulatinamente uma cerveja, escoltada de algum bom-humor, coisa nem tão rara entre amigas que não se vêem faz muito. Enquanto a Itália adentrava o gramado francês, eu, sem perder o discurso do meu companheiro, não tirava os olhos do rosto da moça branca, cabelos negros bem penteados e soltos à brisa do domingo. Ela ouvia atenta a interlocutora, às vezes rindo discretamente, às vezes meneando a cabeça, a esboçar aprovação. E o jogo prosseguia, com ataques e contra-ataques, muito nervosismo e expectativa. Àquela altura, de mim para comigo, já não me interessava nem um pouquinho, o resultado do jogo, se italianos ou franceses ganhariam. Pois que eu estava inclinado a abordar aquele nariz empinado, aquele rosto jovem, estrangeiro. Durante o intervalo do primeiro tempo, fiz o comentário inevitável do macho que assedia a fêmea para conquistá-la: “Pelo jeito, vocês não se vêem faz anos.” A mulata sestrosa sorriu e foi acompanhada pela moça branquinha, que voltou seu rosto para nossa mesa, com o assentimento da colega. Meu amigo sorriu também e fez algum comentário. Minutos depois, não sei exatamente qual o impulso que me levou àquilo, eu estava com o pé macio e cheiroso da moça branca, em minha perna, com seu consentimento, claro. Conversamos muito, apesar de não perder o controle sobre o papo da mesa, esquecendo temporariamente o futebol. Meu amigo, adentrou a grande área, entabulando uma boa conversa, que é de seu jaez, conseguindo a atenção de todos. Nós, os outros interlocutores, ouvíamos atentos suas assertivas. Foi um domingo romântico, lúdico, supostamente podológico a gerar uma boa conversa, regada à cerveja e acepipes, quando a Itália sagrou-se tetracampeã, tornando-me vitorioso sob as supostas últimas águas de um inverno que estava longe de terminar.


WALTER DA SILVA
Camaragibe Pernambuco Brasil
30 de agosto de 2006.
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