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Contos-->Adeus, Velho -- 30/08/2006 - 04:05 (wagner araujo da silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Adeus, Velho – 30.Agosto.2006 – 04:03

Papai sempre foi estranho. Cheio de mistérios e segredos. Talvez seja essa a explicação para eu ser o cara esquisito que sou. Alguém digno de um episódio da série Arquivo X.
De origem humilde, papai veio do Nordeste. Um tempo passou em Campos, Rio de Janeiro, e depois, finalmente, encontrou seu caminho no interior do estado de São Paulo.
Virou contador de uma empresa e nela trabalhou por quase quarenta anos, até a aposentadoria forçada por um presidente que confiscou não só nossas economias, mas também nossa dignidade. Ultimamente meu pai havia virado um típico velhinho. Dormindo com as galinhas e acordando com o galo. Fazia o café da manhã para a família e levava o cachorro Frufru para fazer suas necessidades contidas por toda a noite. Cachorrinho educado, não fazia sujeira no quintal.
Na seqüência do dia, meu pai fazia as compras que tinham que ser feitas para o dia e dirigia-se ao seu “escritório”, um boteco de oitava categoria perto de casa para tomar um vinho, jogar conversa fora e criar calo na barriga encostada ao balcão. Voltava para casa, almoçava e dormia a tarde toda, acompanhado pelo Frufru e pela gata Scully, que teimava em se aninhar sobre sua proeminente barriga de suco de cevada fermentada.
Início da noite, papai levantava-se e ia para a sala ler o resto do jornal que ainda não havia lido durante seu descarrego matinal. Minha mãe fazia seu tricô em um sofá enquanto ele, esparramado em outro, praticava sua leitura com um olho e assistia as notícias na televisão com o outro.
Como saí de casa há um certo tempo para tentar a vida em outra cidade, nem sempre tinha o prazer de contemplar essa rotina de paz e harmonia de meu verdadeiro lar. Sim, moro em outra cidade, mas lar verdadeiro é aquele em que nossos pais estão.
Em um fim de semana fui visitá-los. Conversamos durante todo o sábado e ainda sobrou papo para a noite. Novidades da família, baixarias dos vizinhos e planos para o futuro. Dormir felizes fomos pela presença de todos em casa.
No domingo de céu carrancudo acordei tarde, já que seu chinelinho não havia arrastado pela casa ainda. Como estava frio, imaginei que ele ainda dormia no quentinho. Fui até o banheiro e no caminho ouvi um soluçar na cozinha. Minha mãe chorava baixinho para não incomodar ninguém. Ao me ver, não mais se conteve e jogou-se em meus braços. Em meu ouvido uma voz entristecida disse:
- Seu pai se foi.
Não houve a pompa com que o Rei George anunciava às famílias que os seus entes queridos tirados lhes haviam sido. Foi um comunicado direto, pesaroso, honesto, sem selo monárquico ou obrigação institucional.
Meu pai virou uma estrela, como ele sempre me dizia para explicar quando alguém falecia. E virou a Estrela mais cintilante do céu . Nesse seu aniversário, só posso dizer uma coisa:
- Eu te amo, Pai.



Wagner -


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