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Contos-->O POETA NOTURNO -- 24/08/2006 - 13:58 (Odilon Fehlauer) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nos anos sessenta, numa cidade pacata como era a maioria das localidades do interior, havia um sujeito folclórico e hilariante. A diversão noturna dos homens boêmios era freqüentar a zona de meretrício, palco agitado formado pelo labirinto de ruas desprovidas de calçamento, com casas pintadas com cores berrantes. Nas janelas, mulheres se expunham com decotes ousados buscando atrair fregueses.
Lito era seu nome. Nada mais sobre ele era dito. Pouco trabalhava, transpondo a monotonia dos dias. Percorria as ruelas declamando versos de sua autoria, usando um chavão:

“O tempo está de chuva, os ares de fumaça, os homens não têm dinheiro, as mulheres não dão de graça”.

As meninas da vida – como eram chamadas as prostitutas – consideravam Lito um “pé frio”, pois seus versos ensejavam negativismo. Ao vê-lo despontar, elas batiam na madeira das soleiras por três vezes seguidas e recolhiam-se para o interior do aposento.
Elas eram supersticiosas, ao serem servidas de cerveja no instante que era sacada a tampinha e surge a bolha que se forma, com os dedos a estouravam benzendo-se. Era uma mandinga para afastar mau-olhado e conquistar clientes.
As canções tocadas no dancing eram plangentes, predominava o tango com suas letras lamuriosas. Lito sabia tudo que acontecia naquele mundo noturno: quem era amante de quem e quem era o gigolô.
Conhecia os habitues, que aliás, repetiam-se. Levava recados para os amantes, era prestativo, às vezes realizava compras emergenciais para as meretrizes. Conhecia todas pelo nome e apelido. O bordel era seu mundo.

Nunca tinha dinheiro e valia-se da astúcia.

Mantinha-se atento quando uma das pensionistas adoecia e, nestas condições, ficavam inexoravelmente solitárias. Lito lhes fazia companhia, medicando-as e fazendo chás, até mesmo canja de galinha.
Acampava nos aposentos da enferma e assim agindo, despertava sua gratidão. Quando curavam-se, ele sutilmente “cobrava” pela assistência permutando favores sexuais. Nesta conduta, amalgamava-se na vida das mulheres. Quando não obtinha este recurso, em função do relacionamento com as cafetinas, donas do bordel, aliciava homens atraindo-os às casas. Muitas vezes, forjando ao alardear suposta chegada de novas pensionistas.
Nas madrugadas, as pessoas rareavam e Lito, como zumbi, circulava as ruelas declamando suas alocuções, improvisando seu verso tradicional:

“O tempo está de chuva e molhou a grama, os homens não têm dinheiro e as mulheres ficaram sem grana.”

Lito era um inocente que não se encontrara na vida. Tinha afazeres voltados a infelicidade alheia e nestas situações era convocado. Quando uma delas morria, muitas se envenenavam, lá estava Lito ao redor do caixão. Em garrafas descartadas de cerveja, ele improvisava castiçais e acendia a chama dolente das velas. Era o primeiro a chegar e o último a sair. Sobre uma mesinha da entrada ele colocava um prato vazio para arrecadar trocados que segundo alegava, eram para comprar velas para a finada.


Odilon Fehlauer.







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