Era um domingo ensolarado. Depois do almoço, a Luzia (minha irmã mais velha) desculpou-se que queria aprender um novo ponto de tricó com a Teresinha (nossa prima). Minha mãe consentiu, contanto que eu fosse de companhia. A Teresinha morava no Porto Velho (um bairro de Divinópolis), Ã s margens do Rio Itapecerica. Quase uma hora de caminhada e lá chegamos. Morava numa casa simples mas impecável na limpeza. O chão era de cimento vermelho e ficava brilhando com a cera que passavam e mesmo a família sendo numerosa (15 filhos - crianças e adolescentes) era tudo de uma ordem de dar gosto. É que o Tio Geraldo (tio "torto" nosso) era de uma severidade sem igual. Vivia sempre de cara fechada, dando ordens e todos tinham que obedecer sem retrucar!
O quintal era enorme e todo plantado: tinha milharal, mandiocal, árvores frutíferas e ao fundo passava o rio. Chegando lá, nem lembramos de tricó. Fomos para o quintal e correndo "praqui, prali" avistamos uma canoa amarrada numa árvore. Nós éramos 5: eu, a Luzia, a Teresinha, os primos Nonó e Matias e ninguém tinha mais que 14 anos. Entramos na canoa (sem salva-vida e sem saber nadar) e fomos navegando pelo rio, sem imaginar o perigo que corríamos. Foi aquela algazarra. Cantávamos, gritávamos, celebrando nossa tão rara liberdade. Sem percebermos a canoa foi-se enchendo de água. É que ela tinha um enorme buraco que estava fechado com uma estopa e com o movimento das águas, ela se soltou e foi-se embora. Tratamos logo de acudir, colocando as mãos no buraco, enquanto os outros iam tirando a água da canoa com as mãos em concha. E ríamos achando a vida boa. Eu acho que os anjinhos da guarda neste dia tiveram muito trabalho!