Quem nunca contabilizou expectativas na soma dos dias vividos? Sejam elas de caráter positivo ou negativo, findam por habitar o silêncio cúmplice do nosso olhar ou ocupam as confidências que fazemos, a que confiamos e chamamos de amigo.
O que está para ocorrer em nossas vidas termina por preencher quase todo o nosso presente. As nossas melhores energias e vibrações, em grande escala, estão sempre à disposição do instante seguinte, do futuro, e não do hoje, que nos presenteia com o dom sublime do ser e estar.
Quando projetamos expectativas em situações e/ou fatos, esboçamos a tela do nosso futuro com as cores do passado. Se, no momento em que ocorrem, destoarem dos matizes que pintamos como harmónicos, vemos esparramadas as nossas frustrações, oriundas do modelo mental anteriormente traçado e esperado.
Há em nós um evidente desejo de monitorar o futuro, para ver e ter ratificado os nossos mais íntimos anseios, desejos e sonhos. Fazemos do futuro, a projeção do que esperamos e definimos como felicidade.
E se não há existência sem que se nutram expectativas, de que forma conviver com elas, sem que se tornem aprisionamento? Como minimizar os efeitos daquilo que não se confirma, mas que nos era indicativo de plenitude? Penso que não existem regras matemáticas para conviver com o que não se materializa ante nossos olhos e coração. Não existem tampouco bulas que nos orientem sobre os efeitos colaterais causados pelo sonho tão ansiado e não confirmado. Mas existe algo que nos afiança o existir: viver um dia de cada vez, como há milênios pregam os orientais. Para isto, devemos nos dar sem qualquer constrangimento doses diárias de amor e um bom punhado de ternura. É importante que desatemos o olhar que não mira e que não sente o presente. Ainda que o hoje não corresponda aos nossos desejos, certamente ele é passaporte para o desconhecido futuro que insistimos em fazer mais próximo, cúmplice e amigo, do que o presente que nos acaricia, abraça e nos oferece a possibilidade de modificar o que nos parece posto e definitivo. O futuro deve ser tratado como aspiração. É o que ele é.