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Cronicas-->Li e gostei - II -- 30/06/2004 - 07:51 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
COMO NÃO GOVERNAR UM PAíS
Paul Krugman
The New York Times

A ocupação formal do Iraque chegou a um triste fim na segunda-feira, com uma cerimónia furtiva realizada com dois dias de antecipação para evitar ataques insurgentes e com a rápida saída, de avião, do administrador-chefe do país. Na realidade, a ocupação continuará com outro nome, muito provavelmente até que uma população iraquiana hostil exija que partamos. Mas já
vale a pena perguntar por que as coisas deram tão errado. A aventura iraquiana podia estar condenada ao fracasso desde o início, mas jamais saberemos ao certo, já que o governo Bush transformou a ocupação em enorme confusão. Futuros historiadores considerarão essa guerra exemplo de como não se governar um país. Até umcerto ponto, os números do precioso índice do Iraque feito pela Brookings Institution dizem a verdade. Os números sobre o fornecimento
de eletricidade e a produção de petróleo mostram um padrão irregular de recuperação e frequentes retrocessos; os números sobre os ataques insurgentes e as baixas civis mostram que a segurança progressivamente piorou, e não melhorou; as pesquisas de opinião mostram uma ocupação que desperdiçou a boa vontade inicial. Mas o que os números não mostram é a mistura tóxica de obsessão ideológica e de política para os amigos que está por trás desse decepcionante desempenho.

A insurgência criou raízes nos primeiros meses da ocupação, quando a Autoridade Provisória da Coalizão (APC) pareceu estranhamente dissociada dos problemas da anarquia do pós-guerra. Mas qual era a principal preocupação de Paul Bremer, o chefe da APC? De acordo com o repórter do The Washington Post que viajou com ele de avião, em junho, "Bremer discutia a necessidade de privatizar as indústrias estatais com tal fervor que a sua voz se sobrepunha à algazarra do setor de carga".

Os planos de privatização acabaram sendo adiados. Mas, quando se preparava para deixar o Iraque, Bremer mencionou como algumas de suas maiores conquistas os projetos de lei que reduziam impostos e tarifas e liberalizavam os investimentos estrangeiros. Os rebeldes estão
explodindo os oleodutos e as delegacias de polícia, o esgoto jorra das tubulações, nas ruas, e falta eletricidade a maior parte do tempo - mas nós demos ao Iraque o presente da livre economia.
Se os ocupantes às vezes se esqueciam da realidade, um dos motivos era que muitos cargos da
APC foram dados a pessoas cuja qualificação parecia ser principalmente vínculos pessoais e políticos - gente como Simone Ledeen, cujo pai, Michael Ledeen, um destacado neoconservador, disse em palestra que "o nível de baixas é secundário" porque "somos um povo guerreiro" e "adoramos a guerra".

E ainda, dado o foco económico de Bremer, você deveria no mínimo esperar que o seu principal assessor para o desenvolvimento do setor privado fosse um especialista em privatização e liberalização que tivesse trabalhado em países como a Rússia ou a Argentina. Mas o trabalho
coube, de início, a Thomas Foley, um empresário do Connecticut, encarregado de levantar doações para o Partido Republicano, sem uma experiência tão relevante. Em março, Michael Fleischer, um empresário de New Jersey, assumiu o cargo. Sim, ele é irmão de Ari Fleischer, ex-porta-voz da Casa Branca. Michael disse ao jornal The Chicago Tribune que parte do seu trabalho era educar os empresários iraquianos: "O único paradigma que eles conhecem é a política para os amigos. Estamos ensinando a eles que existe um sistema alternativo com checagens e revisões constantes."

Checagens e revisões? Segunda feira, uma importante instituição britànica de caridade, a Christian Aid, divulgou um relatório bastante crítico, intitulado "Alimentando a suspeita", a propósito do uso da renda obtida com o petróleo iraquiano. Ele assinala que a resolução
da ONU de maio de 2003, que dava à APC o direito de gastar esse dinheiro, exigia a criação de um grupo internacional de fiscalização, o qual designaria um auditor, de modo a garantir que essa renda fosse gasta em benefício do povo iraquiano. Em vez disso, os EUA protelaram,
e o auditor só começou a trabalhar em abril de 2004. Mesmo assim, de acordo com um relatório,
ele enfrentou "a resistência do pessoal da APC". E agora, sem que a auditoria fosse divulgada, a APC foi dissolvida.

Os defensores do governo irão dizer, sem dúvida, que a Christian Aid e outros críticos não têm prova de que os bilhões de dólares não contabilizados foram mal gastos. Mas pense deste modo: dada a suspeita do mundo árabe de que nós fomos roubar o petróleo do Iraque, as autoridades de ocupação tinham todos os motivos para criar uma auditoria independente, que livrasse a Halliburton e outras empresas americanas da acusação de que estavam lucrando à custa do
Iraque. A menos, é claro, que as acusações sejam corretas. Vamos dizer o óbvio. Ao transformar o Iraque num "playground" para os economistas de direita, numa agência de empregos para amigos e parentes, e numa fonte lucrativa para os empresários que fazem contribuições para o Partido Republicano, o governo prestou um enorme favor aos que recrutam terroristas.

■ Paul Krugman é professor da Universidade de Princeton.
--- Artigo reproduzido do jornal O Estado de S.Paulo (30/junho/04)
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