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cronicas-->A.P.E.J. -- 27/06/2004 - 18:50 (Érica) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Esta sigla corresponde a: Academia Paulista de Escritores Juvenis. Já não existe mais. Funcionou por alguns anos em S.Paulo, à Alameda Lorena. As reuniões da dita Academia se davam num casarão nobre, branco, alto, com árvores na frente e dos lados, janelas imensas, algumas com vitrais coloridos, importados da Bélgica ou da França. O casarão abrigava a sede da Sociedade Pestalozzi e uma organização que se chamava Colmeia, voltada para o bem-estar de pessoas carentes.

A Academia era formada por uma juventude inclinada a intenções literárias. Noventa e nove por cento dos jovens que dela participavam (um grupo que se renovava anualmente) era formado por alunos e alunas dos melhores colégios particulares de São Paulo: Nossa Senhora do Sion, Des Oiseaux, Rio Branco, Bandeirantes... O único um por cento era formado por quem esta crónica subscreve: eu, aluna de um colégio estadual e vinda de um bairro classe média em formação, filha de pai imigrante, comerciante e com sotaque em português. Enquanto meus coleguinhas provinham de famílias de troncos paulistas e paulistanos, 400 anos nos costados, alguns descendentes de bandeirantes ou afiliados, outros de grandes nomes da política nacional.

Líamos nossos trabalhos literários. Algumas escreviam em francês, sua segunda língua depois do português, pois suas férias eram passadas ora em Nice, ora em Provence, ora em Paris. Recebíamos alguns escritores mais ou menos conhecidos - o critério de seleção era o grau de parentesco ou amizades que os pais das moças e dos rapazes tinham com os ditos escritores. Eu morria de inveja de tais relações. Tinha uma imensa curiosidade em saber o que é que os pais e os escritores conversavam, quando se encontravam. Nunca tinha visto um escritor em pessoa, imaginava-os um pouco como Castro Alves, falando alto o tempo todo, ou então, como Olavo Bilac, empertigado delegado de ensino...

Tivemos também uma cerimónia de posse na Academia... Vestimos toga e tudo o mais. Houve discursos e flores. Cada um de nós tinha de escolkher um padrinho. Escolhi um paulistano que estava na Antologia Escolar que tinha sido adotada na minha primeira ou segunda série ginasial. O nome dele era Antonio de Oliveira Ribeiro Neto. Trabalhava como alto funcionário na Estação Sorocabana (hoje é a Sala São Paulo, um magnífico exemplo do que se pode fazer com a cultura no Brasil, quando se encontram bons patrocinadores e a boa vontade de gente do governo...). Fui até o escritório dele, acompanhada por uma colega de ginásio, para convidá-lo a ser meu padrinho na Cerimónia de Posse. Mal me lembro de como foi o meu encontro com aquele senhor. Porque é uma das cenas mais vexatórias da minha vida. Eu me sentia mal vestida, mal penteada, avermelhada, envergonhada, transpirando pelas mãos e pelos pés. Minha colega me contou que eu falei sem parar, nem para respirar eu dei pausa. Meu nervosismo era tanto que, ao terminar de falar, me levantei, apertei a mão do cavalheiro, rabisquei o endereço de onde seria a Cerimónia e me fui. Ela veio atrás de mim. Não me lembro do resto da historia.

Sim, ele compareceu à Cerimónia de Posse. Não me lembro o que ele disse, mas todos tinham de dizer algumas palavras de encorajamento para seus apadrinhados. Fiquei outra vez toda acabrunhada... Enquanto os demais, socialmente mais libertos do que eu, papeavam com seus padrihos, eu me esgueirei para fora da sala e fui embora. Nunca mais vi o meu padrinho.

Mas segui a rota literária. Salvo engano, nenhuma das pessoas que fizeram presença na tal Academia chegaram a prosseguir nos caminhos abertos então. Decerto fizeram carreira em outras áreas. De vez em quando vejo um nome ou outro nas colunas sociais dos jornais do Rio e de S.Paulo, de vez em quando vejo até fotos daquele pessoal. Mas nada mais.
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Érica Eye
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