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cronicas-->DEPOIMENTO: MEUS BICHOS-HISTÓRIAS DE VIDA -- 25/06/2004 - 17:48 (OLYMPIA SALETE RODRIGUES - 2 (visite a página ROSAPIA)) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DEPOIMENTO: MEUS BICHOS - HISTÓRIAS DE VIDA

Para ARTHUR e CATITA.


O título desta crónica-depoimento é o mesmo de um livro que escrevi e lancei em 1983 (edição esgotada), onde contei as mais marcantes histórias minhas com meus mais diversos bichos, de pássaros e frangos, passando por gatos e tertarugas, e chegando aos cães, estes sempre mais interagentes com os seres humanos. Escrevi sem objetivo específico, apenas registrando minhas experiências. Entretanto as crianças o elegeram como "livro infantil", tanto o curtiam (o que seria dos animais se não fossem as crianças?). E ele resultou em diversas palestras e oficinas para crianças e até para a reflexão de adultos. O lançamento foi feito no Bosque Municipal de Marília, com presença de diversas escolas de 1° grau da periferia, convidadas pessoalmente. Um grupo de teatro representava uma peça, atores todos vestidos de animais. Uma banda tocava músicas cujos temas eram bichos. Fiz questão de vender cada volume pelo preço da mais barata revista que encontrara nas bancas de jornais.

Isso a título de introdução. Não é disso que quero falar. Quero contar como foi feliz minha vida e como aprendi com meus bichos. Assim que nasci, minha sábia mãe me deu por babá um cachorro que foi meu primeiro grande amor. Ele assistira ao meu nascimento e a paixão fora imediata. Cuidava de mim o tempo todo, velava meu sono e, ao menor resmungo, corria chamar Mamãe. Pretinho -era seu nome - morreu quando eu tinha 4 anos. Foi também minha primeira e maior dor. Eu chamava por ele e comovia toda a família. Hoje eu sei que Mamãe acertou ao me entregar aos cuidados de Pretinho, minha auto-estima estava garantida. E assim, desde pequenina, cuidei de bichinhos, principalmente os abandonados e doentes. E o mais importante, vida afora, foi a formação de meu sentimento.

Cresci assim: amando muito, tanto gente como animais. Amava amigos, namorados, companheiros, mas nenhum desses amores foram tão especiais como o amor de meus bichos, todos, sem exceção. Eles nunca me decepcionaram como os animais humanos - quase todos. A vida inteira tive a companhia, na maioria, de cães e gatos. Vivi lindas histórias e acabei chorando por todos a cada partida. Encontrei minha vocação final num trabalho intenso com animais carentes. Encerrei esse trabalho em grande sofrimento - perseguida que fui pelos cruéis animais humanos - exausta, doente, pobre, mas contente e realizada. Fui morar numa casinha pequenina com cinco cães e dois gatos. Eles foram morrendo e eu não arranjava outros porque não mais conseguia dar aos bichinhos os cuidados necessários.

Chego onde quero chegar: ao final da minha caminhada. Ficou apenas Arthur, o caçula de todos. Desse companheiro não posso falar tudo, sob o risco de escrever um livro... Peço ao leitor que pense no que já experimentou de mais lindo e puro: um amor sem limite, fidelidade absoluta, troca de olhares que falavam mais que qualquer palavra, emoção sempre presente, entrega mútua. Arthur - o companheiro de todas as horas, que se tornou companheiro único nas circunstàncias de minha vida. Ele era alegre e só se entristecia quando me via triste. Lambia minhas lágrimas quando me surpreendia chorando. Se eu perdesse a hora de despertar, chorava baixinho, sentadinho na cama, olhos fixos em mim, até que eu abrisse os meus. Então fazia a festa de sempre: era o nosso bom-dia.

Há pouco mais de um mês, Arthur adoeceu. Parecia uma doencinha sem importància. Dia seguinte piorou. Quando eu me distraía, entrava embaixo da cama, queria se esconder. Por isso cheguei a pensar em morte, mas fugi, não queria aceitar essa idéia como verdadeira. Ao final de 36 horas, morreu. Eu percebi a morte, ou melhor, a assumi, pouco antes. Morreu em meus braços e já não lambia minhas lágrimas. Eram 5:30h da manhã, eu sozinha com ele. Entrei em desespero e soltei todos os meus gritos. Tive - e tenho ainda - medo da vida sem Arthur, o único companheiro, o meu "banquinho do piano", tudo que eu tinha.

Enquanto ele estava bem eu tinha um medo: o de morrer e deixá-lo desamparado, certamente sofrendo a minha falta como eu sofro a dele. Percebi aos poucos que eu pressentira sua morte, apesar de não ter nenhum sinal concreto. Fizera e publicara alguns textos para ele, achando que era apenas inspiração de cada momento. Hoje sei que não era, a morte rondava. E ele partiu, antes de mim, como eu mesma preferia.

Para que este depoimento seja entendido, preciso voltar um pouquinho ao passado. Cerca de 9 anos atrás, uma amiga chegou aflita com uma cachorrinha que encontrara perdida numa tempestade. Era pouco mais que recém-nascida. Estava gelada. A amiga pedia que eu tentasse salvá-la, pela experiência que tinha com animais. A língua do bichinho era branca, anemia profunda. Ela não engolia nada. Fui franca: indiquei o remédio natural (folha de mandioca moída, soro caseiro, aquecimento do corpinho - era preciso tentar) e pedi que não tivesse muita esperança, tal seu estado de fraqueza. Dia seguinte, pela manhã, liguei para saber. Passara a noite, disse o marido de minha amiga, mas confessou também acreditar que ela não viveria. À tarde: passara o dia. E, assim, com o passar dos dias, foi melhorando e, com a dedicação de minha amiga, venceu a morte. E vive ainda. Chama-se Catita.

Minha amiga faz o trabalho que eu fiz: cuida de animais abandonados e doentes. Catita, agora sadia, vive entre eles.

Voltemos ao hoje. Depois que Arthur morreu eu não quis outro animal comigo, apesar dos conselhos de diversas pessoas. Mas fui me enterrando em depressão violenta. Fiquei desanimada, indiferente a tudo e a todos, o golpe sofrido na perda de Arthur fez com que meu estado de saúde piorasse sensivelmente. Não lia, não escrevia, comia apenas o necessário, não me animava a fazer nada. E esse quadro massacrante piorava a cada dia. Fui sentindo a dor terrível do isolamento total. Por várias vezes tive ímpetos de procurar um cão para me fazer companhia. Medo de isso ser outro problema: com quem ele ficaria se eu faltasse?

No auge da depressão e da solidão, resolvi: liguei para minha amiga perguntando se ela teria um animalzinho que ficasse comigo um tempo e que pudesse voltar para ela na minha falta. E resolvemos: Catita vem ficar comigo. Ela não substituirá Arthur, pois um bicho não aceita essa humilhação... rs... Ela será a minha distração, a minha companhia, uma nova amiga. Quando eu partir, não sofrerá, pois voltará para sua "mãe" verdadeira.

Reflito: Quando trabalhei com animais carentes, eles precisavam de mim, para se alimentar, para vencer a doença e viver. Eu lhes dei amor. Hoje eu preciso deles para manter o equilíbrio numa vida esvaziada (o que seria de mim se não fossem os animais?). Ajudei a salvar a vida de Catita há 9 anos atrás. Hoje ela vem para alegrar um pouco a vida que me resta. O que foi Pretinho na minha infància, ela será ao entardecer de mim: uma companhia, uma babá! Certamente restituirá a auto-estima que Pretinho inaugurou. Eu sou mesmo uma privilegiada...

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