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Contos-->Um Casal em dificuldades. -- 29/07/2006 - 19:44 (Paulo Marcio Bernardo da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Casal em dificuldades

Já passavam das seis da tarde de sábado, quando Regina fala com Ronaldo das necessidades de ir ao supermercado fazer as compras da semana. Após muita reclamação, e não era para menos, Ronaldo estava cansado da pelada que acabara de fazer com seus amigos e de uma exausta semana de trabalho. Regina por sua vez tinha cuidado dos meninos e lavado a roupa da casa, e também tivera uma semana de dupla jornada. Apesar das discussões, Ronaldo concorda em fazer a tarefa de marido e pai.

Lembra, no entanto que a gasolina do carro está na reserva e o dinheiro é pouco. Mas lá se vão os dois. Dois não, quatro. Afinal não tinham com quem deixar as crianças. Eles brigam e choram no banco de trás. Regina grita e Ronaldo dirige um velho opala beberrão.
Na chegada ao supermercado, o estacionamento está cheio, mas com jeitinho aparece uma vaga espremida. Ronaldo estaciona. Todos descem e disputam um carrinho com outros clientes. Os meninos vão correndo na frente. Regina torna a gritar para que as crianças se comportassem.
Regina dita as necessidades e Ronaldo controla o bolso. Ela precisa comprar quase tudo, do feijão e arroz ao papel higiênico e sabão em pó. Ele não pode passar pela gôndola de cervejas e vodka. Os meninos pedem biscoitos e iogurte. O carrinho vai enchendo e também acabando com a paciência de Regina e Ronaldo. E ainda faltam o shampoo e alguns cremes para o cabelo e o corpo. O carrinho está cheio e também Ronaldo, que briga mais uma vez com Regina por ela gastar demais. Enfrentam a fila do caixa, pagam com cheque pré e saem.

Na volta ao carro, mais problemas. O velho opala não pega por falta de gasolina.
Ronaldo quase explode. Regina fala um palavrão e os meninos choram novamente. O tumulto está formado. Para resolver o problema, as crianças ficam no carro com Regina, aguardando Ronaldo ir até o posto mais próximo e trazer um pouco de combustível. O dinheiro curto, posto longe, lá vai o Ronaldo a pé. No caminho para num bar para arranjar uma vasilha Pet (garrafa de plástico), aproveita e toma uma. Chega ao posto, compra a gasolina e na volta toma mais uma. Todos estão irritados. A briga toma novas proporções. Insultos de ambas as partes.
Ao chegar em casa, descarregam o carro, colocam as crianças já dormindo em suas respectivas camas e continuam brigando. Essa não era a primeira, mas poderia ser a ultima briga, pensa o casal. Afinal, elas se repetiam e eram cada vez piores.

Regina vai dormir no quarto das crianças, junto do filho menor e Ronaldo no quarto do casal. Ronaldo liga a TV para ver o jogo do flamengo já em andamento, e pra piorar o Fla está perdendo. Tudo está no fim, pensa, ele de um lado e ela do outro.

Regina está decidida a ir para a casa da mãe com as crianças, e Ronaldo pensa o pior. Desliga a TV, vai na cozinha, toma mais algumas cachaças, vai ao banheiro, volta para o quarto, apaga a luz e pensa de tudo. Ir embora, se matar ou matar Regina, pois ela é culpada de tudo. Isso não é a primeira vez que passa pela cabeça de Ronaldo.

Todos dormem. Na manha de domingo, bem cedinho, Ronaldo acorda, se levanta, enquanto Regina e os meninos ainda dormem. Ele vai ao banheiro, faz xixi, escova os dentes e pensa o que vai fazer. Afinal, eles brigaram muito. Caminha até a cozinha, toma um resto de café frio que estava na garrafa térmica, acende um cigarro, vai até o quarto das crianças, abre a porta devagarzinho. Regina e eles ainda estão dormindo.

Ronaldo volta à cozinha e pega na gaveta de talheres uma faca e uma pedra de amolar. Pensativo, senta-se à porta e com raro cuidado amola a faca. Sem pressa, leva a lâmina brilhante de um lado para o outro. Vira a pedra, e torna a afiar a faca. O rádio está ligado baixinho e ele ouve as ultimas notícias. Acende mais um cigarro, enquanto caprichosamente afia a faca. Agora ele corta um limão, coloca vodka e gelo e saboreia a bebida, ainda pensativo. A faca continua em sua mão sendo amolada. Ronaldo coloca a faca sobre a banca da pia, sai sem fazer barulho, vai a uma banca de jornais, compra a edição de domingo e volta olhando as manchetes principais. Deixa o jornal ainda arrumado sobre a mesa e volta a amolar a faca.
Já são dez horas da manha. Agora, Ronaldo levando a faca na mão, abre a porta do quarto das crianças, vagarosamente e em silencio, chega próximo a Regina, inclina-se sobre ela e diz: acorda amor! Já são dez horas! Eu já fiz o café, comprei o jornal, separei as picanhas e a lingüiça, temperei o coração de galinha das crianças e fiz o molho a campanha.

- Eu esqueci de contar: O flamengo virou o jogo, a cerveja já estava gelada, Ronaldo já havia ligado para os amigos do casal, convidando pra “churrascada” e o som tocava “Amada Amante” com Roberto Carlos.

Essa é a vida de um casal brasileiro (nem sempre da periferia), que amam e discutem para tornar a amar. São erros e acertos, é o cotidiano da vida de um casal trabalhador.
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