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Contos-->A MENINA E O GATO -- 14/07/2006 - 22:16 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A MENINA E O GATO

Francisco Miguel de Moura*


O casal Ana e Ananias, com a filha ao lado, está tranqüilamente diante da tevê, assistindo à última parte da novela das cinco. A menina, ainda na pré-adolescência, muito sensível, mas sem aquela facilidade de chorar, principalmente na vista das pessoas. Também não é risonha. E tem um gênio forte, imita os pais, que falam alto quando se aborrecem. Já têm idade de ser avós da menina.
Quando não estão assistindo à tevê, a casa é silenciosa. Naquele momento o som que se ouvia vinha da novela “Alma Gêmea”.
Como que para romper a tranqüilidade do ambiente entra, de manso, um gatinho branco, dos olhos azuis, meio arrepiado, sujo, sem dizer nenhum miau. Parecia doentinho.
A menina levanta-se, quer pegá-lo.
A mãe corre e o pega primeiro. Vai e o leva rápido para fora do portão. Desconfiada de que ele pode entrar de novo pela brecha da porta, coloca na brecha um tapume de papel duro, daqueles que serviram de embalagem do móvel recentemente comprado.
-Mãe, vamos criar o bichinho, é tão bonitinho?!
-Que bonito, que nada, menina! Este bicho todo desmilinguido parece estar doente e aqui não é hospital veterinário.
-De onde veio?
-Do lixo, foi abandonado pela mãe e pelo dono.
-Ah, mas eu quero, quero, quero!
-Não, não e não! Já criamos um cachorro, ele me mordeu; criamos um pintinho e ele morreu; depois seu pai comprou um papagaio, era velho demais, não aprendia a falar, ficou estressado no poleiro, e morreu; você teve um coelhinho que roía tudo, adoecia e era preciso levar ao médico-veterinário todo o mês.
A menina começa a chorar, um pranto muito sentido como uma desesperada, como nunca acontecera.
-Bicho dá muito trabalho e despesa – retruca a mãe.
A menina chorava alto, bradando que queria o seu gatinho.
-Ah, ele já é seu?
-Assim os bichos vão ficar com raiva de mim. Eu não sou uma mãe desnaturada, quero adotar o gatinho.
-Os bichos lhe querem bem por natureza. Lembra daquela rolinha que entrou em nossa casa e foi procurar você na sua cama? Você a criou até que cresceu. Um dia ela voou, aproveitando uma brecha da gaiola-viveiro. Na hora que a Maria foi botar comida. Assim são os filhos. Daqui a uns tempos vai se larga também, ganha o mundo, deixa a mamãe e o papai sozinhos, chorando.
-Não, mamãe, nunca farei isto!
Ainda chorava, mas caiu nos braços de Ana Maria e se consolou. Quando levantou os olhos, ainda estavam vermelhos e molhados de lágrimas. O pai também estava muito piedoso, mas tentou não se deixar emocionar pelo acontecido. Apenas fez um convite à garota:
-Vamos à padaria?
Foram. Lá, Ananias pegou os pães e um pedaço do bolo dos mais apreciados pela filha. Passaram, em seguida, pela locadora de filmes. E, entre várias perguntas da filha – pra onde “ele” tinha ido, como ia dormir sozinho e coisas assim – o pai saiu com essa que julga ter amainado da filha aquela paixão momentânea:
-Ah! Quisera eu ser hoje um gatinho como aquele!
-Pra quê? Aninha perguntou ingenuamente.
-Para que você gostasse de mim como mostrou gostar do gatinho.
-Ah, pai! Mas ele é um animal.


_______________________
*Francisco Miguel de Moura, escritor brasileiro, mora em Teresina. E-mail: franciscomigueldemoura@superig.com.br
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