UM BRASILEIRO NO INFERNO


O brasileiro morreu e foi parar no inferno. Lá chegando, dirigiu-se à sala de informações:
– Bom dia! Sou novato aqui e gostaria de algumas orientações.
Diz a recepcionista.
– Pois não. Pode escolher qualquer um dos balcões ali adiante. Lá, eles fornecem as orientações. Cada balcão, representando um país, tem a sua tabela própria. Aqui funciona em sistema de rodízio. Hoje nós temos o balcão de brasileiros, de japoneses e de russos. O senhor pode escolher qualquer um deles.
– Muito obrigado, disse o brasileiro. E caminhou na direção dos balcões.
– Entrou na fila do balcão japonês e perguntou:
- Como é que funciona isto aqui? Bem, disse a recepcionista, aqui o condenado é obrigado a tomar 1000 chicotadas por dia, passar 05 horas no forno quente, três vezes ao dia, de manhã, de tarde e de noite, e ouvir uma palestra, de pé, durante 06 horas, sobre o inferno. Só depois disso é que liberamos o pecador para a fase de recursos no purgatório.
O brasileiro, como todo bom malandro, desconfiou da fila pequena e resolveu pesquisar outros balcões.
O balcão russo tinha uma fila menor do que a do japonês. E o brasileiro foi lá. Mesmo diálogo.
– Como é que funciona o castigo por aqui?
– Bem, aqui na Rússia são 500 chicotadas por dia, mais 03 horas no forno quente, somente de manhã e de tarde. E a palestra dura 04 horas.
– O negócio tá melhorando! Vou pesquisar mais. Pensou o brasileiro.
Olhou para o último balcão, o do Brasil e, apesar da enorme fila, que dava voltas em todo o inferno, resolveu ir até lá, mais por curiosidade..
– Bom dia. Como é que funciona a parada aqui?
– Bem, aqui são 5000 chicotadas ao dia, 15 horas no forno quente e a palestra dura 9 horas. O brasileiro tomou um susto e não se conteve:
– Explica uma coisa, por favor. Como é que este balcão tem uma fila enorme, que dá mais de três voltas no inferno, sendo que sua tabela de castigos é bem mais rigorosa do que as tabelas do Japão e da Rússia? Responde a recepcionista.
– Bem, você sabe como são as coisas no Brasil. Você é de lá. Nós aqui começamos a adotar esta tabela de castigos pesados, justamente pra ver se não aparece ninguém para encher o nosso saco.. Mas, sabe como é que são as coisas por lá.; Ninguém guarda segredo. E todos já descobriram que o nosso forno elétrico está quebrado há mais de cinco anos. E não há recursos nem previsão de data para o conserto. O chicote também está em falta. Há meses que se aguarda o resultado da licitação. Deu o maior rolo e ninguém chega a um acordo. O processo foi parar na justiça. Estamos aguardando seu desfecho. Além do mais, o funcionário que aplica as chicotadas está de licença sem vencimentos, por prazo indeterminado. E o diabo do professor, que ministra a palestra, não recebe há tempos, e desistiu de trabalhar. Nosso papel aqui, portanto, é o de liberar todo mundo para purgatório. Isso depois de conversar com a chefia e soltar uma pequena ajuda para nossa caixinha de Natal.
– Entendi, disse o brasileiro. Me dá uma senha, por favor. Vamos aguardar na fila.