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Contos-->BURACO NEGRO -- 14/07/2006 - 01:08 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


BURACO NEGRO


F
alhara a tentativa de repor o tempo perdido. Num relance, eles se voltaram para o ano anterior, talvez como uma fuga. Os controles, todos eles fora de cogitação, já que a essa altura, torna-se brutal demais inverter o processo. Já haviam tentado tudo, inclusive uma nobre abordagem aos espíritos, através dum médium conhecido. O embarque para Lisboa, estava agendado para as três da tarde. O velho Air-Bus esperava na pista 37 do aeroporto, aguardando a ordem para decolar. Tudo isso havia acontecido no último século. Um tempo de desesperança, de inoportunidade. Daniel tirou o boné novo da cabeça, bateu-o limpando a poeira do verão, com força, na perna esquerda e limpando a testa de suor. Todos os amigos pontuais estavam no aeroporto aguardando o desembarque do Mestre. Os inóspitos 40 graus lá fora, reduziram-se a 23 quando a entourage adentrou o saguão da parte nova do aeroporto. Misturados às cores vivas das bolsas e dos malotes de bagagem, as mulheres exalavam suas fragrâncias de fim-de-semana, expondo à mostra os colos macios. Os homens, trazendo consigo no rosto, essa metafórica sujeição, preparavam seus salamaleques para impressionar o Mestre, em sua ida para mais uma aventura sideral. Egresso de uma enfermidade na alma, ele mantinha-se calado, quase circunspeto. No rosto, as olheiras revelavam incontáveis noites insones, a escrever na velha Remington, posto que o computador dá-lhe uma sensação estranha de submissão tecnológica. Embora um homem do seu tempo, instalado no início do século, o Mestre pretende viajar para a estação internacional e lá tentar manter contato. Esotérico, metafísico e sedento para descobrir a pedra fundamental, o elo perdido, ele parte de premissas simples, no entanto complexas em seu contexto. Daniel, seu assessor especial, negro reluzente, sabia o que fazer nessas circunstâncias. Conhecia o Mestre, seus desejos e suas premonições. Além do mais, os 25 anos de diferença entre um e outro, davam a Daniel, a certeza de que aprendera muito em todos esses anos de contato com o Mestre, para quem devotava todo seu tempo como secretário e fac-totum. Depois do check-in, os cumprimentos de praxe, os abraços às vezes nem tão calorosos, os beijos sutis face a face e em alguns, um certo ar de carência e vazio. O Mestre embarcava finalmente. Roncando estrondosamente, o grande pássaro de metal refletia a luz do sol em sua grande fuselagem. Daniel olhava com ar saudoso o rosto diminuto do Mestre, na janelinha do avião. Começará tudo de novo, refletira com seus botões, o jovem Daniel. A missão para a qual fora incumbido, desafia sua capacidade criativa e seu alto espírito de altruísmo. Ficara patente que para esse tipo de missão, cabe-lhe o planejamento. O Mestre demorará três semanas, exatamente o tempo em que Daniel preparará sua nova estratégia em comunhão com os demais. Precisa de calma, tempo e temperança. Não foi difícil chegar até aqui, tampouco terá sido fácil enfrentar a fera da inquietude, da intemperança, do mau-humor e da agressividade latente no homem. Resta-lhe tão-somente alongar sua capacidade de interação com os outros companheiros, a fim de executar o projeto.
Em suas mãos, Daniel vislumbra a capacidade de ação efetiva para que o projeto saia imediatamente do papel. E levanta a cabeça discretamente enquanto a aeronave some no espaço.


(excerto do romance “OS SONS DO NADA”)
CAMARAGIBE-PE, maio de 2006. copyright by WALTER DA SILVA.


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