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Contos-->XI - Epílogo -- 02/07/2006 - 07:59 (José J Serpa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
























Capítulo 11 – epílogo





Vieram cedo as três no outro dia
e foi Florinda a primeira a chegar:
—Linguiça de fumeiro para assar...
feita por mim. Só carne! Também queria
trazer lapas... Zé Rço diz que havia
ressaca e não as quis ir apanhar.
Deixá-lo, doutra vez há-de calhar.

Milena vinha linda... parecia
um anjo... vestidinho vaporoso,
azul, como as hortênsias que então
estavam já em plena floração...
decotezinho lindo, apetitoso:
—Eu cá não trago nada... que não tinha.
—Nem é preciso! Tu és a rainha


da festa
—disse Elvira que trazia
um coelho— Prontinho a ir prò tacho.
Vai ser “à caçador” que assim eu acho
que é bom... É o melhor que eu sabia.
Ficou de vinha-d´alhos todo o dia,
quero dizer... de noite. —És um despacho,
ó rapariga, tu. E não há macho
que te apanhe e te leve à sacristia?
—Ai, haver, há! Eu é que não os quero.
Uns brutamontes! Eu ainda espero
um príncipe encantado, ó Florinda.
E um dia hei-de achar um... Olha, a Milena
já encontrou.... Meu Deus, esta pequena...
Se eu não gostasse tanto dela... ainda...



—Roubavas-lhe o rapaz? —Eu não disse isso!
—Ai, não disseste não! Mas... —Que badalo!...
Conversa mais maluca! Era o Gonçalo
a mandá-las calar. —Vão pôr feitiço,
quebranto, mau olhado... ou mau enguiço...
ou lá o que é... nos noivos! Mas deixá-lo,
suas bruxas, que eu hoje não me ralo
mesmo com nada... senão com o chouriço
e os inhames... Porque os inhames
d´hoje são mesmo cá do meu olheiro
e o chouriço foi feito cá na quinta...
do meu porquinho. E tu não me chames
comilão, ó Florinda! Eu sou o primeiro,
hoje, a dizer que vou comer por trinta.



Estavam tão felizes os velhinhos...
numa azáfama enorme a cirandar
de cá pra lá... Já andava no ar
o cheiro da linguiça... e dos cominhos
com que era temperada. —Meus sobrinhos!!!
Já sei, Florinda, vamos adoptar
estes pombinhos... vem mesmo a calhar...
eles ficam a ser nossos sobrinhos...
E se houver casamento, afilhados...
que isso é que deve ser. E a Elvira
fica sendo uma amiga especial...
e ria-se o Gonçalo. —Ai, casados
e a viver aqui! Ai, quem diria
que eu inda havia de pensar em tal...




Pareciam rever-se em nosso amor
que de certa maneira os vindicava
das mil desilusões da vida... Andava
Florinda a rir, alegre, num fervor
que iluminava tudo: —Ai, meu amor
dizia p´ra Milena... e apontava
—esse pombinho aí... só lhe faltava,
nesses loiros cabelos, uma flor.

E vinha com dois cravos encarnados
prender-mos nos cabelos... —Namorados
queridinhos assim... até consola.

E afobada gritava p´rà cozinha:
—Vim cá fora buscar uma salsinha...
Gonçalo, tu já picaste a cebola?


—Piquei-a eu! Gonçalo não se tira
do pé de mim... anda todo melado...
credo!... e pinga amor por todo o lado...
Olha, vem cá p´ra dentro!
Era Elvira
quem respondia lá de dentro —Oh vira....
—gritava ela— é baile de rodado...
la-ri-ló-lé... e saía com ele abraçado
em trejeitos de dança —Não admira...
este velho baboso... inda dá
co´a moça em doida... olhem só!...´Lha lá,
ó Elvira, mas tu perdeste o tino?
—Eu não! Quem está maluca és tu, Florinda!
Gonçalo inda está rijo... Ai está!... Ainda!...
Mais rijo... do que aí, muito menino...




E o velhote deixava-se levar
nos braços dela ao longo do terraço...
Tropeçava, coitado, a cada passo
mas ela segurava-o a bailar.
Florinda, continua a resmungar:
—Olhem p´ràquilo, olhem p´rò madraço
do velho... eu não sei o que lhe faço...
Elvira, acabaste de endoidar?
O Gonçalo não pode andar assim
em correrias ele ainda cai,
mulher. Estás maluca? Deixa-o sentar,
antes que ele entonteça... Dá por mim!
Já tem idade para ser teu pai...
teu pai não – teu avô!... Vamos sentar.



E sentaram-se ali junto de nós,
sempre a brincar, a conversar, a rir...
e nós sem paciência para os ouvir,
tal o desejo de ficarmos sós...
Num arroubo de amor Milena pôs
no meu joelho as mãos como a pedir
que fôssemos... Não pude resistir...
tomei-lhe as mãos nas minhas e em voz
emocionada disse-lhe ao ouvido:
—Que lindo anel o teu! —A aliança
da minha mãe. É de ouro, de ouro puro.
Chegou-se mais ao ver-me comovido:
—Eu tenho este anel desde criança.
É p´rò meu casamento... no futuro...




E eu fui contando, a brincar com o anel:
—Milena, olha eu zanguei-me c´o Gonçalo.
ontem à noite. E agora já não falo
com ele. Nunca mais! Grande infiel...
Chamou-te um figo... dos pingo-de-mel!
—Coitado do velhote, ora... deixá-lo
co´as suas fantasias... não me ralo
que me chamasse... o que foi mesmo qu´ele
me chamou? Pingo de quê? Um figo?
—Figo pingo-de-mel... Lá no portão...
lembras-te, quando se entra?... A figueira
grande?... Queres ir ver? Vem lá comigo.
Lá fomos, e ao sairmos, mão na mão,
Elvira deu-nos d´olho, prazenteira.



A figueira era enorme e cobria
todo o recinto, desde o patamar
que dava para a cozinha, até chegar
ao portão da entrada, onde tinia
aquela campainha que se ouvia
lá de dentro. —Ai, deixa-me apanhar...
aquele ali, gordinho, vês, no ar,
mesmo ao pé do balcão?... olha eu podia
saltar naquele caixote... achas que posso?
—Não. Mas qquele ao pé da campainha...
vem cá... chega-te mais... pego-te ao colo...

Milena abraçou-se ao meu pescoço,
levantei-a nos braços... a saínha
do vestido subiu... que coxas... que consolo!
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