O escravo Tomás suicidou. Vestido com sua melhor roupa branca, da que usou em toda a vida cativa, seu corpo jazia pendurado no tronco da árvore arrebalde, pois nunca ousara assanhamentos perto da casa grande. A dona, criatura ruim, até o valor do escravo lamentou. Acusou o marido de trata-lo feito gente, daí ter se matado como branco. A mulher era ruim mesmo, dessas que não sentem a morte dos outros. Mas a raiva dela excretava também sua cultura, aculturamento, melhor dizendo. Mostrava até certo refinamento social, pois o que dava perdido não era o preço do escravo. Ele valia mais que isso.
Acontece que D. Pedro II estava para visitar a região, e naquele tempo era tudo a cavalo. O aviso chegava mais de ano antes, também para dar tempo da região se preparar. Em jogo entre os senhores locais, havia títulos de nobreza para os mais benfeitores. D. Pedro tinha isso, era idealizador e com um viés abolicionista. Escravo alforriado contava muito bem para benesses, títulos e cartórios imperiais. Tomás estava no lote que se ia alforriar mas nem fazia questão, pois o que sua dona tinha de ruim o senhor tinha de bom. Se matou de tédio. |