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Contos-->NO REINO DO KAOS -- 28/05/2006 - 20:05 (Roberto Stavale) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
NO REINO DO KAOS


Há muito tempo, lá pelo século VII, havia um pequeno reinado chamado Kaos, chefiado pelo rei Lagosta, filho de camponeses. Este soberano era extremamente verborrágico. Falava muito, mas seus súditos não compreendiam as suas metáforas, ditas em horas impróprias. Rei Lagosta era também presidente de honra da seita PQT – Pra Que Trabalhar?
Mesmo com os seus principais assessores roubando os cofres da Coroa, o reino de Kaos continuava vivendo.
O que mais intrigava naquelas paragens era a inversão de valores. Afinal, a religião predominante era a da Santa Madre Igreja Católica Apostólica Romana. Uma honra, pois Kaos tinha sido parte do Império Romano Convertido. Mas os verdadeiros ensinamentos de Cristo estavam longe de ser cumpridos.
A maior inversão ficava mesmo por conta da criminalidade.
A igreja, diversas autoridades, conselheiros reais, admiradores da escola de samba Foice e Martelo, (segundo alguns antropólogos e antropófagos, o samba nasceu no Kaos), e alguns artistas de circo mambembe resolveram rebelar-se contra as normas imperiais dos primórdios do reinado. Este movimento ficou conhecido como A Esquerda Festiva.
Até o rei Lagosta, sempre coçando a sua barbicha, colocou-se ao lado dos esquerdistas.
Com isto, Kaos começou a se tornar, de fato, um caos.
Estes pretensiosos, que se diziam progressistas, depois de embebedar o rei – que ficou sem saber de nada mesmo – criaram os Direitos Humanos para Bandidos.
Como presidente e porta-voz destes direitos, foi nomeado o ministro da Injustiça Real, cavalheiro Markos Di San Thomas Vastos. Vale a pena lembrar que no reino havia a Pasta da Justiça e da Injustiça!
Munidos de seus direitos, todos os bandidos, dos pés-de-chinelo até o sofisticado crime organizado e desorganizado, passando pelos criminosos de colarinho branco, ergueram-se e ameaçaram controlar todo o reino.
Revendo a história, é possível constatar que o crime organizado, autodenominado Primeiro Comando, colocou o rei Lagosta no segundo comando.
Os escudeiros reais, obedecendo cegamente à nova constituição preparada pelo senador Olysses Magalhães, devorado pelos peixes ao cair bêbado da galera real durante uma tempestade, assim se expressavam quando prendiam algum cidadão surpreendido em flagrante delito:
— Vossa excelência, meu caro amigo, está presa conforme as leis do reino, e nas seguintes condições: cinco fartas refeições por dia; roupa lavada e passada; serviços médicos e sociais; permissão para fazer sexo com quem o senhor quiser, a qualquer hora do dia ou da noite; uso indiscriminado de pombos-correio e os melhores advogados do reino. Agora, preste bem atenção nesta importante informação: meu digno e caro marginal, depois de cumprir a sua pena, o senhor se aposentará com cem salários mínimos vigentes na ocasião. E poderá condenar o Estado por perdas e danos. O senhor está preso, mas não serão usadas algemas, é claro, para que o senhor não sofra humilhações!
Diante de tão favoráveis condições, até o cidadão mais honesto do reino queria virar bandido.
Assim, o caos foi tomando conta do reino de Kaos.
Mas sempre há os estraga-prazeres.
Duas seitas antiqüíssimas eram praticadas, na surdina, por alguns nobres do reino.
A primeira, Os Adoradores do Fascio, originava-se dos primeiros nobres romanos. Os fascistas tinham como símbolo, herdado dos antigos lictores romanos, um feixe de varas amarrado a um machado.
A segunda, e a mais temível, Os Adoradores da Cruz Gamada, também era uma seita milenar originária da Índia entre os brâmanes e budistas. Nesse país serviu para as joviais saudações religiosas. Esta cruz, com os braços voltados para a direita, era o símbolo destes adoradores. Os nazistas kaóticos usavam a cruz gamada para outros fins, nada joviais.
Certa noite, sob a presidência do Cavalheiro Plinius Docicatus, todos vestidos de preto, para lembrar os dias de luto do reino de Kaos, decidiram formar a elite nazi-fascista contra os nefastos acontecimentos que faziam o reino tremer e o rei beber cada vez mais.
De comum acordo, decidiram trazer, às escondidas, lá da fria Germânia, o terrível médico Barão de Franz Kiestein.
De imediato, Franz Kiestein concordou com o ardiloso e macabro plano dos nazi-fascistas.
O tétrico cirurgião era especializado em amputações. Sem dó nem piedade, cortava membros, cabeças e troncos de humanos, vivos ou mortos, para depois juntá-los e remendá-los. Pretendia, com isso, atingir a perfeição de suas experiências – o homem criado pelo homem!
Com ele vieram outros médicos auxiliares, anestesistas, enfermeiros e padioleiros. Além de farto material para as operações.
Mas quem seriam os desafortunados que iam parar nas mãos de Franz Kiestein?
Nada mais, nada menos que os criminosos que infestavam o reino.
O projeto diabólico consistia em castrá-los, amputar seus membros inferiores e superiores, e depois decepar as suas línguas. Estas barbaridades eram feitas com todos os bandidos – presos ou soltos.
Os facínoras ficariam somente com o tronco e a cabeça. Não poderiam mais andar, movimentar os braços, nem escrever e, sobretudo, não falariam nunca mais. Só ouviriam e pensariam nos crimes cometidos.
Para eles, era o fim da doce vida. Inclusive do sexo desvairado praticado nos calabouços. Nem as línguas restariam!
O duro castigo começou com um detento das masmorras, posto nas mãos dos algozes sob suborno. Era um famoso criminoso e traficante de ópio, conhecido como Marolas.
Depois de submetido ao bisturi de Franz Kiestein, deixaram o pobre coitado algumas semanas no hospital-esconderijo, para as devidas cicatrizações.
No momento certo, enrolaram Marolas num lençol e o colocaram num cesto de vime.
Na calada da noite, os padioleiros deixaram aquele morto-vivo na soleira da porta de entrada do arcebispo de Kaos – Dom Ivanildo Armas.
E assim foi se sucedendo. Cada amanhecer era uma aurora de terror.
As portas das casas escolhidas amanheciam com aqueles presentes malignos.
O tempo foi passando até que Franz Kiestein e toda a sua equipe voltaram para a Germânia porque, simplesmente, não havia mais nenhum fora-da-lei para mutilar.
Os séculos transcorreram em paz, segurança e muita tranqüilidade no reino de Kaos.
Já não existem bandidos de qualquer espécie no reino. Há algumas semanas, depois de um referendum democrático, o reino de Kaos passou a se chamar República das Quimeras. Pois como sonho nunca existiu, não existe e jamais existirá!


Roberto Stavale
Maio de 2006
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