Parafraseando o escritor famoso, me atrevo a dizer que toda reforma é ingênua. Refiro-me à s reformas prediais. Ingênua nos prazos, nos gastos e na expectativa de incómodos. Mesmo a mais seca das estações encerra seu período, bastando apenas que o telhado tenha sido removido. Talvez seja possível substituir ingênuo por otimista, mas o efeito é o mesmo. Talvez a substituição seja ingênua. Sei lá, não faz muita diferença. A literatura técnica e as cronicas do cotidiano são omissas e só se apresentam depois que a reforma inicia, quando toda a tragédia torna-se inevitável.
Olhando sob outro àngulo a decisão de se efetuar uma reforma na própria casa é um ato de fé. Um ato de confiança no futuro, em dias de vida mais serena e confortável, fé na possibilidade de abrigar a família e os amigos com mais conforto. Fé em horizontes mais amplos, mostrando o por do sol em todo o seu esplendor, fé em finais de semana dedicados à família e à reflexão. Não se trata de uma fé cega. Ao contrário, trata-se de uma fé com base em organização, planejamento, trabalho. Tem tudo para dar certo, e dará. A questão básica é suportar este período de transição. Estoicismo, paciência, tolerància, paciência, resignação, paciência, tolerància, são qualidades a serem exercitadas. Com a reforma da casa, também seus moradores poderão reformar-se.
Naturalmente, quem tem bom ànimo e acredita no resultado de seu esforço de planejamento e previsão, suporta melhor o andamento de uma reforma. Com m pouco de sorte, há de deliciar-se ao ver cada uma das etapas sendo completadas no prazo e orçamento previstos. Digo isto porque aos reformadores também é dado sonhar e nem todas as suas noites serão passadas com preocupações e ansiedade. Algumas serão passadas em claro, refazendo orçamentos, outras aparando goteiras.
Os amigos, agora desaparecidos, voltarão quando a reforma estiver pronta, trazendo uma alface para ajudar no churrasco e meia lata de cerveja. Com instalações mais amplas os amigos, colegas de trabalho e conhecidos em geral, poderão chegar na tarde de sexta, só indo embora no domingo. Após o jantar. Os parentes distantes poderão planejar temporadas mais longas, tornando a viagem compensadora.
Evidentemente as reformas têm aspectos positivos. Mas só quando terminam. Quando terminam.
Escrito em 11.09.2000
Publicado na Seção Comentários do Cidade Virtual Brasília em 30.09.2000
