Sá Maria enrolou o novelo de lã com paciência. Se
era coisa que ela tinha e de sobra, até para dar
e vender: era a sua incomensurável PACIÊNCIA e mais e muito mais, prudência. São duas qualidades
muito apreciadas pelos homens da campanha e posso
até dizer:por TODOS os homens.Seu homem, sentado ali a seu pé, isto havia já quarenta e seis anos.
Sô Bento, como chamavam os peões, já estava para
lá da casa dos sessenta.A barba e os poucos cabelos grizalhos, lhe davam um ar imponente. O
típico patrão de estância.Homem que sabia lidar com gado e sempre com o olhar preso em uma chinoca.Quando alguma empregada tinha a petulância de dizer, que Sõ Bento havia "prendido o olho nela", Sá Maria tinha resposta no segundo, ali na boca da guaiaca:
_" Se vancê gosta de seus dentes,abre menos a boca e trabalha mais.Sô Bento, na certa tava
de olho é no seu serviço mal feito"! E logo a infeliz caía para outras bandas. Assim era Sá
Maria, poucas falas, muito trabalho e se era para falar sobre o Patrão, era só coisa boa.E ela
tinha até um ditado:
_ "Se a gente fala mal do que já não é tão bom,a coisa só fica pior!" E Sô Bento não vendia uma rama de aipim, sem consultar sua sábia esposa.Os
anos rodaram como a roda de sua roca de fiar.
Nunca ninguém soube dela doente em uma cama.Até
quando teve criança,levantava soberba e firme no
dia seguinte.Só largava mesmo a vassoura por dois
meses, para o útero ir para o lugar.Quem está
imaginando uma senhora enrugada,seca e feia,se enganou e...como!Sá Maria era uma mulher de carne
rija, mistura de europeu com índio.E tinha dado
uma cruza prá lá de boa.Olhos grandes,cinzentos,
a pele era de boneca, nem parecia uma mulher de
mais de cinquenta.Cintura no lugar um cabelo que
reluzia da cor dos trigais.Tinha gente que ainda
a chamava de Sá Moça.Muita gente botava olho
comprido nela.Ainda mais os argentinos,mas aquele olhar firme, só via mesmo, Sô Bento.
E agora o que vale mais, botox, silicone, montes
de plásticas ou esta gaúcha sábia, tesa, esperta e bonita? A decisão é sua nobre leitor(a).
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