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Cordel-->O Eclipse da Mente -- 20/05/2016 - 15:57 (pedro marcilio da silva leite)
Quando tiver um branco mental
E logo sentir que perdeu o chão
E por motivo alheio a seu desejo
E a sua vontade e a sua intenção
Nem adiantará o seu desespero
Quem chegou foi uma depressão.
Que encontrando brecha na alma
De quem perdeu suas referências
Logo se instala com malas e cuia
E todas as suas piores demências
Na mente de mais pobre coitado
E fica aguardando com paciência.
E aguardando o mal que causará
Ela ri com uma boca escancarada
De afiados dentes sanguinolentos
Esperando com as suas dentadas
Que outras almas sem o seu chão
Logo venham a serem decepadas.
Não se sabe nem ou como chega
Essa forma de eclipse numa alma
Como um terremoto ou vendaval
Nem qual das criaturas será salva
Quando for deixando suas ruínas
A sua reconstrução será de calma.
Porque os pedaços se completam
Com os outros de outras saliências
E se chocarão ou se harmonizarão
De acordo com receita de ciências
Que ao se cruzarem e interferirem
Trarão liberdade ou dependências.
Nessa matemática a soma de 2 e 2
Nem sempre vai resultar em cinco
Nem a pessoa vai se sentir ornada
Com seus anéis, cordões e brincos
Pois podem se tornarem seus elos
De correntes e até mesmo trincos.
Pois a vaidade nessa hora da vida
Prefere ir se refugiar na escuridão
De cantos e paredes apropriadas
Ao conforto do desejo de solidão
E sua autoestima deixa o pedestal
Desabando no mais arenoso chão.
Mesmo que já tenha perdido o tal
Como o teto e paredes desabadas
Restando somente de suas janelas
Umas instigantes imagens do nada
Como de muitas ilhas paradisíacas
Que nos desertos são naufragadas.
Não haverá risos por suas caretas
Como aplausos em cenas abertas
Se não haverá mãos para aplaudir
E passarelas não estarão cobertas
É bem melhor desde logo admitir
Que indiferença já é a coisa certa.
Pois até sua sombra desaparece
Procurando nas outras esconder
Seu estranho sintoma de pânico
E suas manias de em tudo querer
Encontrar inimigos por todo lado
E por tantos encontros se perder.
É que já perdido todo o seu chão
Logo fica perdido o seu horizonte
E a perplexidade cai em um vazio
Que o buraco parece um monte
Escondendo uma paisagem inútil
E deixa o amanhã parecer ontem.
Falando em paisagem e horizonte
É fácil notar os desaparecimentos
De silhuetas dos entes conhecidos
Que viviam na sua vida os tempos
Que só você é que vivia ancorada
E nem convivia outros momentos.
Pois só existiam tempos com eles
Quando por e para eles é que vivia
Eram sorriso e lágrima e disfarces
E tudo mais de melhor que existia
E para que vivessem confortáveis
Se não existisse inventava e fazia.
Mas desde que o elo se quebrou
E vidraça e moringas se partiram
Foi como se a cortina se fechasse
E todos os personagens sumiram
Na hora que num imenso recinto
Todas as densas sombras caíram.
O silêncio que a alma ensurdece
Ecoa pelos labirintos da rejeição
E de antigas doenças como lepra
Demonstra como era a repulsão
Até nos mais queridos e íntimos
Que o tinha com amor e afeição.
É como os iguais que não atraem
Para si próprios os que são iguais
Pôs se não são acabarão ficando
Pois que estes eclipses são banais
E muito contaminantes e vorazes
Que até já rotulam os dias atuais.
De dias sombrios de novas trevas
Dessas coisas seculares voltando
Como se nunca houvesse deixado
Ou acabassem ou fosse acabando
As pestes com poderes poderosos
Que a tudo acabam contaminando.
E no tempo da escuridão de agora
Que são contaminados pelo pânico
Do medo de todas as inseguranças
Quando vai deixar a todos atônitos
Pelos caminhos cavando labirintos
Que trazem os tremores atômicos.
Que aos sentimentos vão ceifando
Destruindo as paredes e a mobília
Separando os cômodos e pessoas
E estraçalhando nucleares famílias
E deixando no mar bravio à deriva
Um barco sem vela e sem a quilha.
Aí o eclipse então se completando
Alterando rotas de entendimentos
Não haverá um porque a entender
Pois não haverá mais sentimentos
Pois tudo cairá em profundo vazio
Ficando apenas no mais ou menos.
É como são as pessoas que viveram
Apenas com o intuito da destruição
Que passam a vida produzindo dor
Louvando tragédias por uma opção
A única opção possível por escolha
De pessoas que vivem na escuridão.
Não importa que tenham na cultura
Riqueza em sua forma de expressão
Nem a pobreza de recurso ou mente
Que lhe imprime uma má impressão
Elas são sinistras por entre sombras
Promovendo a intriga e a desolação.
Fuja delas o mais rápido que puder
Use de espertezas e até artimanhas
Pois com conhecimentos macabros
Elas usam de uns truques e manhas
Que até os mais sábios foram presa
Das suas maledicências e peçonhas.
Mas se tiver muita força e coragem
Uma receita que tem o grande valor
É ter paciência com o seu eclipsado
E como tal compartilhe com sua dor
Tenha a sua parceria e cumplicidade
Pois essa é a melhor forma do amor.
FIM
A depressão é a imperfeição do amor. Para poder amar, temos que ser capazes de desesperarmos ante as perdas, e a depressão é o mecanismo des-se desespero. Quando chega destrói o indivíduo e finalmente ofusca sua capacidade de receber afeção. Ela é a solidão dentro de nós que se manifesta e destrói não apenas a conexão com os outros, mas também a capacidade estar em paz consigo mesmo. Embora não previna contra a depressão, o amor é o que protege a mente e a protege de si mesma. Medicamentos e psicoterapia podem renovar essa proteção, tornando mais fácil amar e ser amado, e é por isso que funcionam. Quando estão bem, certas pessoas amam a si mesma, algumas amam a outros, há quem ame o trabalho e quem ame a Deus. Qualquer uma dessas paixões pode oferecer o sentido vital de propósito, que é o oposto da depressão. O amor nos abandona de tempos e tempos, e nós abandonamos o amor. Na depressão, a falta de significado de cada empreendimento e de cada emoção, a falta de significado da própria vida se tornam evidentes O único sentimento que resta nesse estado despido de amor é a insignificância.
Andrew Solomon
O Demônio do Meio-dia – A Anatomia da Depressão