No deserto da minha vida, uma longa trilha de pegadas na areia já deixei para traz. Depois de expulso do ultimo oásis minha caminhada continuou em uma direção apenas instintiva, desorientada e solitária.
De repente ao longe, chamou minha atenção, uma flor no deserto. Ainda longe demais para ver seus detalhes, longe demais ainda para toca-la,... longe de mais. Em agonia de ansiedade, andei mais e mais para alcança-la, mas quanto mais andava mais longe ela ficava, mais inalcançável ela se tornava.
A garganta seca, a língua gruda no céu da boca, tenho medo de engolir minha própria língua e sufocar. Minha pele queima por debaixo da roupa, meus olhos ardem, não tenho lagrimas para umedecer as pálpebras para piscar e tirar a areia dos olhos. Meus músculos já não têm forças para me carregar, o sangue de tão seco já não leva mais energia alguma. Caio ao solo, e agora prostrado, me arrasto. Nos meus ouvidos um zumbido que vai se avolumando, parece que o calor do deserto tem som e eu posso ouvi-lo. Câimbras e dores me castigam, rasgam minha carne por entre os ossos, até o meu grito de dor é seco e sufocante.
Onde há uma flor, pode haver algum maná para salvar minha vida miserável. Uma flor nunca está sozinha pode haver mais vida com ela, e entre outras vidas a minha pode ser preservada. Já estou sufocando parece que o ar quente já não chega mais aos meus pulmões. Braços esticados em um esforço derradeiro, apenas mais um pequeno sopro de vida e eu posso alcança-la e ai poderei me salvar. Finalmente a alcanço, toco a flor com minhas mãos tremulas e desesperadas, mas a flor se desmancha, vira areia. Então vejo que a flor não podia ser tocada, não podia ser colida, não podia ser de ninguém, pelo simples fato de que no deserto de areia até as flores são de areia.
Desmancha-se a flor, eu desfaleço. E no deserto mais um morre, segurando firme um punhado de areia.
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