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Contos-->Caçadores -- 15/03/2006 - 23:12 (wagner araujo da silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caçadores – 13.Março.2006 – 22:02

Guilhermina e Asclepíades não se conheciam, mas tinham o mesmo ideal. As mesmas idéias quanto ao amor e a vida. Importavam-se apenas com azarações de uma noite e sobre como contariam às amigas e amigos o que acontecera então.
Um belo dia Asclepíades saiu para a sua baladinha. Pegou o carango emprestado muito a contragosto pelo pai e foi-se, noite afora. Gel no cabelo, camisa social listrada, calças jeans e sapatos quadrados, que estão na moda, para matar barata no cantinho. Muita gente é ridicularizada e julgada pelos sapatos que usa. Claro, chiclete de hortelã na boca, para espantar o bafo de cerveja e de cigarro não poderia faltar.
Mas, desta vez, a caça já tinha nome. Afinal, ele e Guilhermina já se comunicavam há duas semanas via MSN, pela Internet. Consideravam-se íntimos e almas gêmeas que o destino, por algum motivo, havia afastado. Um era a tampa da panela do outro. O chinelo do pé descalço do outro. Aliás, eu gostaria de saber quem foi o miserável que jogou o meu chinelo fora, mas deixemos pra outra ocasião.
O romântico encontro fora marcado, lógico, no palácio das futilidades. Em um pomposo shopping center. Apesar das descrições pelo computador, ambos se perguntavam se o parceiro não havia mentido. Ela, gostava de homens altos, fortes, cabeludos, olhos claros e, se possível, que tecessem românticos loas. Ele, gostava de mulheres altas e magras, morenas, e também com os olhos claros. E, se possível, sapeca, se é que o honorável leitor e minha honrada leitora me entendem. Todos esses atributos, como podemos ver, fundamentais e de relevância suprema na escolha do cônjuge.
O encontro, marcado para as oito horas, atrasou um pouco. Da parte dele porque queria fazer um charminho. Da parte dela, porque afinal de contas, era uma mulher. ( Desculpe, leitora. Foi mais forte que eu ).
Oito e quinze e ele chega ao local combinado. Nada da moçoila com as descrições que ele procurava. Sentou-se, pediu um chopp e ficou a observar cada alma feminina que por perto aparecesse. Seria aquela? Em alguns casos torcia para que sim, em outros, fazia o sinal da cruz e ameaçava levantar-se e ir embora, como se não fosse com ele. Então, eis que a noiva chega. Sem trombetas ou marcha nupcial, caminhando lentamente Guilhermina adentra o espaço. Pernas finas, joelhinho virado pra dentro e olhar desconfiado. Asclepíades a reconhece e para ela sorri quando esta para ele olha.
Em um misto de vergonha e excitação, Asclepíades pede para que ela se sente, sem ao menos levantar-se para cumprimentá-la e puxar a cadeira. Em menos de cinco minutos ele já está mexendo nos cabelos dela e em menos de dez já estão se beijando e ele a convidando para um local mais calmo. Convite aceito, lá se vai o casal cibernético pelas iluminadas e amplas avenidas da cidade. Ele com toda a pompa no carro do papai que ele teimava em dizer ser dele. Ela, maravilhada com o garotão que acabara de açambarcar.
Saíram do local mais calmo para que foram e para casa voltaram, ambos fazendo juras de amor eterno. No entanto, e-mails e papos eletrônicos foram escasseando, para desespero dela. Desespero aumentado pela regra, como dizia minha avó, que estava atrasada. Precisava falar com ele, mas este sumira há algum tempo. Nem o telefone dele ela tinha. Ele se foi, e a regra não veio. Ela freqüentou o mesmo shopping todas as noites para ver se o encontrava, mas em vão. Roupas cada vez mais largas tentavam iludir os pais que começavam a dar indiretas para que a filha um regime fizesse. Não era o caso.
Asclepíades Júnior nasceu, e Guilhermina, hoje, usa a Internet somente para enviar currículos e tentar arranjar um emprego. Caçador e caça têm hoje um filhote, inocente como todos. Vítima, como todos os três o são.

Wagner -
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