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Contos-->O CAVALEIRO E O ESMOLER-FÁBULA MODERNA -- 12/03/2006 - 23:44 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O CAVALEIRO E O ESMOLER

Francisco Miguel de Moura Escritor brasileiro, mora em Teresina.

Há muito tempo li esta fábula num livro cujo título não anotei nem me preocupei de gravar o nome do autor. Mas posso garantir que é muito boa. Não inventei nada, mas se o tivesse feito ficaria por conta da licença poética, que nesta caso é licença prosaica.
Ia um cidadão no rumo de sua casa, na cidade, montado num belo cavalo branco, gordo, bem arreado. O cavaleiro vestia um sobretudo de flanela porque era época de frio, usava botas de cano alto até os joelhos e na cabeça um chapéu de massa como proteção da careca.
Pelo visto já era um homem de idade e possuidor de alguma fortuna.
O viajante já estava bem próximo de casa, na periferia da cidade. A primeira pessoa que encontrou – era manhãzinha muito cedo – foi um pedinte que exibia a perna direita e o braço esquerdo com feridas grandes a escorrerem pus. Sem camisa, pés no chão, vestia apenas uma bermuda esmolambada.
O mendigo lhe falou em tom lamuriento, como é costume:
- Meu senhor, me dê uma esmola pelo amor de Jesus? Hoje ainda não comi, e estou doente.
O cavaleiro condoeu-se com a expressão do rosto daquele sofredor, lembrou que precisava fazer caridade e imediatamente foi tirando uns trocados e estirou-os com a mão para o pedinte, que a agarrou com força como se não quisesse soltá-la mais Não atinava o porquê do desusado gesto. Estaria desesperado? Mesmo assim preferiu não desconfiar de nada. São assim as pessoas de bom coração:
O velho feridento guardou o dinheiro numa sacola velha de papelão e começou a alisar a montaria do cavaleiro, enquanto se queixava de frio.
- O animal é do senhor?
- Sim, é meu.
- Bonito e gordo, não é?
- Sim.
- Como o senhor.
O homem não teve o que dizer. Ficou apenas olhando o espetáculo.
- Estou com tanto frio! Não se incomoda se eu fique alisando o cavalo? - Não. Por quê?
- O senhor está tão bem vestido! Podia me dar um agasalho que me falta para poder suportar o frio até o centro da cidade. Vou pedir abrigo numa igreja, numa garagem, ou ficarei debaixo da ponte. Melhor do que ficar no meio do tempo.
Com aquelas palavras, o homem convenceu-se de que não custava nada lhe dar o casaco, já que estava com camisa de malha por baixo, que é menos fria do que as comuns. Logo chegaria em casa, pois seu cavalo era bom e estava pertinho. Então, imediatamente estendeu-lhe o sobretudo, satisfeito por te acudido o miserável.
“É caridade matar o frio dos pobres que precisam” – pensou. E ofereceu a Deus o sacrifício, pois ia chegar em casa bastante descomposto. Não é todo dia que acontecem encontros comoventes como aquele.
Mas o esmoler, não satisfeito, volta a pedir mais:
- Senhor, estou tão cansado, não suporto mais andar, meus pés sangram. Por que não me dá a garupa do animal, até chegar, pois já está tão perto? Não custa nada.
Subitamente, o cavaleiro pensou: “E se ele for ficar perto de minha casa? Não, não serei egoísta. A gente peca não somente por palavras e obras, mas também por fazer maus juízos”. Estendeu o braço para ajudá-lo a subir. E ofereceu a Deus o seu sacrifício, o ato de caridade. Não custava nada.
Não demorou muito, o esmoler, aproveitando o descuido do cavaleiro, num lugar íngreme da estrada, já avistando a cidade, segura o chicote e dá-lhe um empurrão certeiro. O desequilíbrio levou o homem ao chão. Foi assim que o mendigo passou-se imediatamente para a sela.
– E agora?
O homem, depois de alguns minutos, se levanta, ainda assustado e triste, descomposto pela queda, sujo de lama, doendo as pernas e a cabeça, o chapéu amassado e enlameado, e fala como se estivesse aborrecido:
- Mas você é muito malandro! Agora, como é que vou chegar em casa? Quero ao menos a garupa – disse, humilde, para não perder todas as graças que haveria de ganhar pelas boas ações.
Não satisfeito, o esmoler deu-lhe uma chibatada e voltou a falar, agora como se estivesse muito irado:
- Vai te “catar”, esmoler de uma figa! Quem tem pena do miserável fica no lugar dele.
A literatura atual não gosta dos moralistas, por isto abandonaram as fábulas. Mas elas ensinam, tanto as que fazem os bichos falarem quanto as que dão vida aos objetos. Esta não é nem uma coisa nem outra. É uma fábula moderna. E, salvo melhor juízo, diz que até a bondade tem limites. Quem é bom demais para os outros termina sendo ruim para si mesmo.

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