Carta a meu Pai
Ontem me peguei querendo falar contigo.
Contar como andam as coisas.
Comentar o que li no jornal.
Pedir tua opinião, pra quem sabe te convencer do contrário.
Falar das minhas dúvidas, pra tentar te convencer das minhas certezas.
Falar apenas alto, pra me pedires menos barulho.
Confessar meus problemas, pra poderes concordar com as minhas soluções.
Queria falar contigo, nem que fosse apenas para ouvir teu silêncio.
Reclamar do que não tem solução pra poder escutar uma resignação.
Escutar teu grito a me chamar pra fazer o que eu já tinha pronto.
Ouvir teu riso pra saber que a vida passa.
Contar-te das minhas novas indignações, pra escutar velhas ponderações.
Falar-te dos meus dilemas, para ter certeza de serem apenas bobagens.
Dizer-te que tinhas razão ao me pedir calma e prontidão.
Falar dos teus, dos meus, dos nossos.
Ponderar por isso e por aquilo.
Queria poder dizer que ta tudo bem, mesmo você sabendo que não é bem assim.
Queria te dizer que teu neto é lindo.
Que teu nome ainda não é rua, mas que a saudade que a gente sente é, e sempre será tua.
Que eu choro escondido por saudade de ti, pra fingir pra tua filha que o único jeito é sorrir.
Pra dizer que tenho medo, por que não estas mais ali.
E também pra pedir que de algum jeito convenças minha mãe a ficar mais tempo por aqui.
Mas queria ter dizer mesmo, que embora nem tudo seja do meu, do seu, do nosso agrado, sinto-me afortunado, pois quis o destino reunir a tua e a minha vontade: sou livre por que preso estou a um amor de verdade.
26/02/07
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