"Se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro"[...] "Só se vê bem com o coração. O essencial é invisível para os olhos". - "Eu sou responsável pela minha rosa... repetiu o principezinho, a fim de se lembrar." (Saint-Exupérý. O Pequeno Príncipe, cap. XXI).
Jan Muá
26 de fevereiro de 2007
O que dizes sobre a amizade, Príncipe, é lindo
É um discurso principesco
Um discurso
Que se situa entre o céu de onde vieste
E a terra onde eu estou!
Há no teu discurso verdadeiros sinais de verdade
Mas porque vens do céu, deves saber
Que na terra
Também há outras verdades ao lado das verdades celestiais
São verdades diferentes daquelas
Que circulam em sociedades amorfas
E em cabeças protocoladas
Diferentes daquelas que vestem sempre o mesmo figurino
E circulam em nome de interesses suspeitosos
Ora porque o meu Pequeno Príncipe,
Que tem a elevada sensibilidade de se encantar
Com as misteriosas rosas e flores
Sabe também que a sabedoria universal
Distingue vários tipos de amizade
E assim, queiramos ou não,
Num mundo de raposas
Bem conhecidas do Príncipe
Terá de haver
Vários tipos de amizade
Há, de um lado, as que formulamos e codificamos
Em nossa sociedade formal
E há, no lado transbordante, as amizades outras
Escondidas
Sem discurso oficial
Que constroem a verdadeira fraternidade e solidariedade
O carinho e o amor
E nos dão as ligações limpas e puras
As amizades naturais e inocentes sem moralismos
Que sobrevivem para além das verdades da razão
E das verdades de pressão
Tu sabes, meu Príncipe, que não há como ignorar
As amizades propulsionadas pelo inconsciente
Que são aquelas que nos dão alegria
Elas estão escondidas
E brotam fortes do coração
Como se fossem alvoradas matinais
Oferecendo-nos jardins e rosas
Olhares e sorrisos de alma
Alegrias e sonhos
E fantasias que refazem a vida!
Essas amizades são reais e legítimas, meu Príncipe,
Nada têm de clandestinas
Porque impelem para a vida
E livram os humanos do sono monótono da hipocrisia
E da rotina cadavérica das pessoas que perderam a alma
Elas restituem a verdade do viver
São estas, ó Príncipe, as autênticas amizades
Do mundo da terra
Porque são amizades que nascem do coração
Da dedicação ou do afeto
E caminham
Instigadas pela esperança de novos sentidos
E pelo encanto do amor que sonha desmaterializando-se
Na direção dos direitos livres de uma nova cidadania!