ANDORINHAS
Num sobe-desce, guina-derrapa, bate asas-planeia, vai-volta, tudo muito rápido, parece errático o vôo das andorinhas. Tente segui-lo... tonteia. Tente acompanhá-lo em meio a um bando... impossível. Em movimentos repentinos, inesperados e incoerentes, parecem disputar uma corrida de imprevistos obstáculos. Estão aqui, alegres e buliçosas num momento; e logo desaparecem. Diz-se que são aves migratórias que gostam do sol e seguem-no à procura de luz e calor. Viajam do Norte para o Sul e do Sul para o Norte todo ano, percorrendo milhares de quilômetros e nunca erram o seu destino.
Terezinha era moça bonita; vistosa, despertava os olhares cobiçosos da ala dos marmanjos. Quando foi estudar em Belo Horizonte, deixou a esperá-la Antônio, namorado de infância. Quando voltou para a cidade natal, deixou para trás João, seu novo namorado. E assim, entre Antônio e João, entre Belô e Uberaba, entre juras e desistências, o tempo foi passando. Quase acomodados na rotina de idas e vindas, de brigas e reconciliações, foram os três surpreendidos pela gravidez de Terezinha. Nem Antônio nem João assumiram a paternidade. Naquele tempo não havia exame de DNA. Insegura e sem certeza de nada, Terezinha ficou naquela de achar ora que o pai era Antônio, ora João. Mas a natureza não aguarda os indecisos e o menino nasceu “sem pai”, afinal. As más línguas diziam que, a cada dia que passava, mais o menino parecia com o dono da padaria onde Terezinha fazia compras. Antônio casou-se com Julieta, que nada tinha com esta história –nem a de Drummond. João casou-se com uma paraguaia que cantava guarânias. E Terezinha?
Terezinha perdeu as asas que a levavam pra lá e pra cá como se andorinha desorientada fosse. Dizem que está de namoro com o motorista do ônibus em que viajava pra lá e pra cá. Ah!... ia me esquecendo... parece que o ônibus era da Viação Andorinha.
José Eurípedes de Oliveira Ramos
Da Academia Francana de Letras
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