Merecidamente premiado em Cannes com a palma de ouro, o filme “Brutti, sporchi e cattivi” conseguiu sacudir a geração rebelde dos anos 70. Nele, o conceituado diretor Ettore Scola mostra de forma jocosamente cruel a que ponto chega a degradação humana, resultante da miséria e da distorção e valores.
Narcisismos à parte, o ser humano, mesmo limitado, ainda é a obra mais perfeita do criador, para os que crêem, ou da própria natureza, para os incrédulos. De qualquer forma, à unanimidade, o homem não prescinde do mínimo de respeito e dignidade para manter-se no plano superior dentre os animais, por ser o único dotado de racionalidade.
Em tempos de “inteligência emocional”, investigada, dentre outros, por Daniel Coleman, tornou-se por todos conhecida a importância da auto-estima como elemento da imagem que o indivíduo faz de si mesmo, valendo para os grupos sociais em que vive.
O que se dizer então de um país onde uma revista de circulação e altamente conceituada escolhe como capa um “Fernandinho Beira-mar”?
Sem dúvida, a auto-estima do brasileiro alcança níveis preocupantes nos dias atuais. Não de pode negar que a origem colonialista e um sistema ditatorial por duas décadas restringiu a auto-estima nacional por inviabilizar a formação de novos líderes independentes e idealistas. Alguns dos seus espaços foram preenchidos por oportunistas (excluídas as exceções), caudilhos e megalomaníacos que, desprovidos de vocação política, transformaram em doença crônica a eterna crise política, econômica e social do Brasil.
O pleno exercício da cidadania ainda demanda tempo. Aos poucos a consciência política vai sendo inoculada na nossa sociedade. E, neste aspecto, a mídia tem grande parcela responsabilidade. A psicologia social e de massas deve ser estudada e corretamente aplicada para atingirmos o plano social e político que o brasileiro merece. Enquanto isto, tenhamos paciência. Mas, por favor, que nos socorram os formadores de opinião. Poupem-nos das mensagens negativas, destrutivas. Denúncias sejam feitas, mas que se dê notoriedade a quem constrói, nunca a quem implode.
O Brasil é um dos mais belos países do mundo. Em passado recente já estivemos dentre as dez maiores economias mundiais. Nosso povo é ordeiro e sentimental. Temos personalidades internacionalmente conhecidas na literatura, na medicina, nas artes, nas ciências, no mundo “fashion”, no humanismo. Jovens lideranças estão surgindo. A juventude de hoje está mais bem qualificada profissionalmente, por maiores possibilidades, do que a da minha geração.
Assim, que não se tente nivelar por baixo o brasileiro, via de regra honrado, indiretamente exaltando os que destroem, quando os que constroem é que merecem notoriedade. Enquanto isto ocorrer, os bandidos se consolidam como líderes e servem de paradigma de sucesso para os seus seguidores.
Decididamente, não somos personagens de Scola. Lembramos, por fim, que pelas mensagens influenciamos e fomos influenciados indistintamente e que as concessionárias de serviço público não podem efetuar desvio de finalidade a que se propõem. Sua missão é prestar serviço à sociedade, jamais desserviço.
Este artigo foi escrito por Francisca Idelária Pinheiro Linhares - Procuradora de Justiça no estado do Ceará.
