Pode me acusar do que quiser. Mas homem que usa brinco não merece confiança. Tenho motivos para acreditar que a mudança de costumes das últimas décadas é coisa do Capeta. Onde já se viu tantos abusos, Senhor?! Dia desses, andando pela Paulista, meus olhos cansados testemunharam um dos maiores absurdos de toda a minha vida. Dois rapazotes se encontraram em frente ao Masp e se cumprimentaram - vejam só! - com um tremendo beijo. Faça-me o favor!... Onde é que a gente vai parar? O único homem que beijei foi meu pai. E ainda sim as mãos, pedindo a bênção diária. Hoje em dia essa molecada vive aí, em plena luz do dia, trocando afagos que, antigamente, só se via entre namorados. Estou falando de casal de namorados; um homem, uma mulher...
Não tem jeito! As diferenças existem. Ou você, que se diz macho, se vê mijando sentado? Dá para aceitar que um sujeito goste mais de vólei do que de futebol? Ou que um cidadão saia do botequim mais cedo para não perder o último capítulo da novela? Não dá! Verdade seja dita: nenhum homem que se preze fica bem de camisa salmão. Pink, então...
Quase todos os meus amigos compartilham da minha opinião. É natural que se faça amizade com quem se tem afinidades comportamentais e ideológicas. Quando contei o episódio do beijo ao Onofre, na noite da sexta-feira passada, ele quase enfartou. "Esse mundo está perdido, amigo" - foi o que póde comentar. Estava com um resfriado forte, deitado no sofá, enquanto conversava com ele. Desviamos do assunto inicial e passamos a discutir política - coisa de macho de verdade. Antes de começar o filme com o Steven Seagal apertou a vontade de mijar. Aquela vontade incontrolável que perturba o cérebro, que nos deixa agoniados. Levantei para ir ao banheiro (e mijar em pé, que fique claro!).
- Arlindo?
- Sim!
- O que é isso nos seus pés?
- Ora! Pantufa. Vai dizer que não conhece?
Meu amigo se calou. Esperou eu voltar e se despediu apressadamente. Ficou de ligar no dia seguinte para marcarmos uma trucada. Já se passou quase uma semana e nem sinal do parceiro de carteado. A pantufa, a cara de espanto do amigo... Tá me estranhando, ó Onofre?!
