< O amante... Era dia de carnaval. >
Era dia de carnaval, a cidade ainda deserta, os transeuntes dispersos, iam bem, em direção a Avenida - de certo, escolheriam o melhor lugar para assistirem ao desfile dos blocos carnavalescos, que por sinal era um show bonito e familiar, podendo participar com alegria, não se comparando com as Escolas de Samba que sempre abrilhantaram a Festa do Rei Momo, também era uma realidade ímpar.
Minha fantasia foi feita de última hora, não sabia se optava por Cleópatra ou por Afrodite, duas personalidades fortes e eu queria impressionar alguém que estaria à minha espera no último dia de Carnaval, naquela mesma Avenida, onde amaríamos, trocaríamos beijos com ternura e carinho, como nos contos de fadas, e teríamos muito o que conversar menos numa despedida definitiva, seria um até breve, de certa forma amigável.
Lá pelas tantas, já quase adormecida pelos embalos dos sons não muito costumeiros vindos da TV, eu assistia ao desfile de uma Escola de Samba, embalada naquele encanto e magia, enquanto terminava minha fantasia, recebi a ligação de uma amiga convidando-me para um baile no Clube do meu bairro, com outros amigos da turma. A sua intenção era para eu esquecer que estaria sozinha por mais alguns meses, anos como sempre foi ou até quem sabe o próximo carnaval como de costume.
O meu telefone tocou, outra vez... já era de madrugada... Fui atender tropeçando em tudo que encontrava pela frente e no meu caminho, quando ao pegar o fone do outro lado da linha uma voz meio rouca e sensual me pedia para abaixar o som, pois ele não conseguia me ouvir daquele jeito tão alto e pediu-me desculpas por sua impulsividade pela hora avançada e do seu amor intenso que não podia esperar. Eu confesso, que nem acreditei, mas meu coração disparou de emoção ao tomar consciência da razão daquele gesto tão impulsivo do homem que representava a minha vida, não ouvia nada que ele falava de tão cansada que eu estava tinha terminado a minha fantasia e faltava bordar de lantejoulas a parte do busto, que eu mal tinha começado, era Afrodite e teria que ficar bem bonita, para "aquele momento", apesar, da despedida, daí, abaixei o som e continuamos uma conversa que durou pelo menos umas três horas, foi o resto da noite e só terminamos pela manhã com o sol batendo em meu rosto eu tomada de alegria, meu amado me desejando um belo dia, era tudo o que eu queria, mesmo que, do outro lado da linha a despedida se fazia anunciar com um adeus...
O que eu já tinha passado na vida, em meus relacionamentos anteriores, estava longe da sensação que eu senti, cada vez, que o meu amante se aproximou de mim. Esse homem era tudo o que eu queria, a morte poderia me buscar, porque sem ele a vida já não teria mais sentido, eu pensava que não merecia tal ventura, mas como me dava muito amor ele seria meu, me dizia coisas que emocionava meu coração e esta excitação vibrava todo o meu ser, "você não é desse Mundo", assim eu dizia. Eram muitas as palavras sublimes saídas de seu coração e nesse clima de pura satisfação nos conhecemos, minha vida se transformou tirando-me da inércia em que eu me encontrava. Era um amor intenso que se tornaria platônico. Continuaríamos a nos comunicar através de cartas, telefonemas e alimentaríamos o nosso amor de lembranças, sublimes recordações. Nossas almas estavam sendo testadas e teríamos que passar neste teste com louvor... Ele estava separado e eu também saindo de um casamento e com a nossa situação ainda, mal resolvida ficamos aguardando o momento certo para reencontrarmos, e pelo telefone foi a nossa despedida, do mesmo jeito de quando nos separamos, por causa de sua ausência, sempre com esse mesmo motivo, dando lugar a uma ausência de quase dois anos sem nos ver até que aconteceria o mais lindo e romântico encontro do mundo, se ele novamente não tivesse que me dizer adeus. Chorei muito depois de nossa conversa, a minha mente estava desgovernada e cheia de ilusões, e ser iludida mais uma vez já não fazia diferença, eu vivia de sonhos e se não os tornasse realidade não importava mais sonhar... Resolvi dar uma chance ao meu coração, e não pensaria mais em despedidas, mas sim em um encontro com ele um pouco mais para o futuro que não tardaria em vir.
Eu cheguei no Clube na hora marcada e minha amiga ainda não tinha chegado quando fiquei muito envolvida com tudo aquilo que estava acontecendo, logo ali à minha frente... Um bloco de rapazes mascarados todos fantasiados com personagens de heróis muito divertidos e contentes me tiraram para dançar com eles, fazendo rodinhas no salão... e enquanto o "trenzinho da folia" se divertia eu me permitia sorrir para um certo "homem aranha" esperando que ele se aproximasse de mim, e quando dei por mim com o seu olhar fixo nos meus, olhando olho no olho, me senti apaixonada, como se eu já conhecesse aquele olhar tão cativante e queria sentir o toque de suas mãos e os seus lábios nos meus, pois os seus lábios me faziam lembrar e transferia-me para mais perto de uma realidade com a qual eu havia sonhado e minha imaginação para o encontro com o meu amor naquele momento ali, naquela folia me fez recordar dos beijos que trocaríamos e seríamos o par mais romântico daquela noite e minha imaginação fértil me reportou à nossa conversa sobre o encontro que teríamos "que tinha dito ser sua fantasia com máscara e que eu teria uma surpresa em plena folia, ele só não disse que iria ao Clube, mas meu coração não se enganaria". Nossa !!! Só podia ser ele, minhas emoções vibravam, foi inexplicavelmente, um êxtase total quando ele me beijou, algo além e muito além do que possa ser definido... Parecia-me estar vivendo um sonho !!! Quando um sentimento de ternura invadiu-me o ser, tive sensação de desmaio, apoiei-me em seus braços e o beijei novamente, tudo em nome do meu amor, acreditava ser ele e sentia o gosto de seus lábios nos meus como uma dádiva de Deus e que maravilhosa surpresa eu tive !!! Nem todo romance de carnaval termina na quarta-feira de cinzas o nosso não terminou, porque selamos com um beijo com gosto de eternidade e até hoje, estamos juntos, contando estrelas no céu e tudo o mais que um casal romântico tem direito nós vivenciamos e vivemos desse amor... Somos eternos amantes da vida. Não houve despedida, pelo contrário, tudo o que queríamos...aconteceu, ele voltou não partiu como disse ao telefone, queria me fazer uma surpresa, sem me dizer adeus, foi na realidade um encontro para nossa perfeita união. Depois disso nossa vida tornou-se um "sonho real " (*)!!!
(*) sonho real = analogia com muitos sonhos e fantasias que afinal tornaram-se realidade.
gABRIELAgABI (25.01.2006)
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