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Cronicas-->Oração Crente de um Homem Duvidoso -- 25/04/2004 - 00:07 (Carlos Eduardo Canhameiro) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Oração Crente de um Homem Duvidoso

Carlos Canhameiro

Deus?, sim... É a minha última instància. Talvez se eu tivesse mais amigos... Talvez se tudo fosse mais simples - quer "tudo" e "simples" serem como desejo... Talvez se a dor de não se conseguir expressar a vontade de expressar fosse menor... Talvez... Nem você... Nem eu... Existam... Talvez eu consiga terminar essa frase sem talvez, por mais que a vontade dramática, estética e condicional me obriguem... Talvez...
Como o senhor viu e já sabia, eu sou fraco e terminei a frase como me ensinaram os livros tolos que li. Nem sei mesmo se livros, algum dia, podem se tornar tolos ou se somos nós que assim somos... Enfim, eis minha oração sincera. E assim ela é porque assim acredito ser, e se a fé move montanhas, deve também fazer com que orações sejam sinceras, pelo menos essa. E... Minhas palavras faltam justamente quando preciso começar... Porquê, Deus! Como aceitar a minha racionalidade e, ao mesmo tempo, projetar um deus fora de mim como interlocutor? Como póde nos colocar na encruzilhada de podermos negá-lo? Enfim, não pensei em começar com indagações, porque essas me parecem pueris, e... Mesmo assim não sou capaz de desdizê-las. Por que a fraqueza, a guerra, a pobreza, os impostos, o negro, o branco, o gay, o sexo, a arte, a bolsa de valores, a justiça, o amor, a perda, o cego, a dúvida, a fé, nós? Desculpe, são algumas questões engasgadas há algum tempo... E... Bem... Antes de começar de fato, achei que poderia improvisar um prólogo... Prometo não desviar o objeto dessa oração de seu curso, se bem que minha alma diz que tudo está associado. É o bastante, não me confundirei mais... E, se acaso acontecer novamente, o senhor já o sabe, então peço perdão adiantado.
Tire-me a dor, não física, não mental. Tire-me a dor de minh´alma. Expurga-a para outros cantos, desfaça-a, desinvente-a, tome-a para si... Não me importa o que faça, contanto que a faça sumir. Milhares existem e deixam de existir enquanto oro ao senhor, eu poderia ser um deles - daqueles que deixariam de existir porque o favor de me fazer existir já foi feito. Bobagens, bobagens... Deus, o mundo dá voltas, não vivemos para sempre, nada se cria, todos são substituíveis, o tempo não pára, para morrer basta estar vivo, e entre chavões e chavões, a verdade vai se comprimindo em palavras sem sentido real: a vida é supérflua. Estamos na superfície e jamais alcançaremos o magma sob nossos pés. E a minha oração transformou-se em grito de guerra, em panfletagem barata de rebelde descausado. Por que assim nos fez, criador? - Certo, sem mais questões.
Dá me relativismo. Sim, ensina-me a não julgar, nunca, nem quando, e muito menos, quando não convém. Faça-me desejar a despretensão, a candura, a ingenuidade - que fique claro que não quero ser a Madre Tereza de Calcutá. Salve-me dos jogos que inventamos para garantirmos um sentido para a nossa existência. Ou, diabos, me faça jogá-los e não ser árbitro deles. Tira-me o conhecimento, aquele que me torna metido a besta. Deixa-me com a inteligência e priva-me da empáfia. Enfim, ensina-me a viver sem se perguntar como.
Pareço pouco sincero nesse momento, mesmo porque mencionei o coisa-ruim no meio, mas tome apenas como uma interjeição. O calor das palavras sempre me leva a afetações, torno-me retórico. Percebe o problema que vivo? Está, agora, perscrutando meu coração? Ok, no more question, entendi. Compreenda, porém, que o senhor não nos dá muitas opções. Não estou reclamando, estou é perdendo a razão. "Morrer, dormir, dormir...!" Deus que tudo pode, pode deixar de existir? - Desculpe, não pude resistir. A seriedade da minha oração não pode ser posta em prova pelo meu bom-humor questionável.
Peço apenas, agora como o pedido de um condenado... Não à morte, mas a viver desejando o fim e não o alcançando por coragem própria. Deus, mostre-me o viver em paz, não com o outro, nem contigo... Comigo. Paz sem sentido, para minh´alma, para mim, não para ninguém. E, ensina-me a fazer isso sem precisar pedi-lo a ti.
Já vou indo, a oração alivia a dor, por isso a recorrência. Nesse momento minha mulher me chama no quarto. Para ela, mais importante que tudo, é ter-se em meus braços, neles se aninhar e mais nada. Simples assim que desejo que fosse, se não me aconchegar nos teus braços, me consumir neles. Amém... Para não perder o costume.


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