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Contos-->O sentido da vida -- 27/01/2006 - 23:09 (Bruno D Angelo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Não. Ninguém poderia deter Svensson Swensson naquele momento. Ninguém. Ele caminha firme, forte. Forte. Firme, forte. Forte. Firme, forte. Forte. Passadas largas, não desengonçadas. Seus ombros giram como se fossem de brinquedo. Seus braços pendem, como se quisessem desgrudar do corpo. Não. Ninguém poderia deter Svensson Swensson naquele momento. Trombadas e esbarrões e ele permanece rígido como uma rocha. Seu corpo porém se movimenta como se ouvisse rock and roll. Olhos ao léu. Não. Ninguém poderia deter Svensson Swensson naquele momento.


Número treze mil cento e doze. “Não se fazem mais quarteirões como antigamente”. Posta-se diante da entrada. Pernas arqueadas. Com um simples deslocamento do pescoço, coloca seu rosto em posição para enxergar o arranha-céu. Não foi o suficiente; mais um pouco. Cerra os olhos para conseguir alcançar o topo. Em vão, seus óculos ficaram descansando na mesa de centro da sala de estar, ao lado do jornal e do controle remoto.


Ali mesmo. Ele se dirige a recepção. R.G? Pra quê R.G? Cliente antigo. Elevador logo a direita. Ele sabe. Dentro, pessoas das mais diferentes espécies: engravatados, despojados, jeans, moto-boys e suas jaquetas emborrachadas, faxineiras uniformes, Svensson. Em comum, todos não fazem a menor idéia de onde enfiar suas mãos. Olhos para o chão, olhos para o teto, olhos para qualquer lugar que não fossem os olhos de outra pessoa. Svensson incomoda-se e acha que todos também estão incomodados, mas talvez seja só sua tosca percepção do mundo. Número trinta e cinco. Aqui mesmo, Svensson Swensson sai lentamente, seus movimentos já não parecem mais movidos a rock and roll. Talvez um indie esquisito.


Campainha! Pra que campainha! É de casa. Bate palmas e diz: "O de casa!". Sem resposta. Leva as mãos, novamente, uma ao encontro da outra, com uma velocidade e força capaz de emitir um som estalado. Palmas, oras. "Ô de casa!". Nenhum cão ladra, late e muito menos morde; nenhum galo canta e nenhum bebê chora. A porta lerdamente se entreabre puxada por um figura baixinha e roliça, embalada em um vestido verde rídiculo que deixa sua silhueta igual a de um personagem de desenho animado. Pelo menos é dessa forma que Svensson a enxerga e deixa escapar uma sorriso sacana no canto da boca. "Pode entrar querido!", diz. É uma terapeuta, mas bem podia ser sua avó. Serve-lhe leite em uma xícara recém-restaurada, acompanhado por biscoitos. Hum! Gostosos! "Venha, vamos! Me acompanhe até o escritório. É hora da consulta". Segue seus passos pequeninos, cansado e com medo. Seu pescoço estranhamente se trava. Tenta fazer movimentos circulares, de uma lado para o outro, como lhe ensinaram na RPG, mas nada adianta.


Ao adentrar a sala, Svensson Swensson é repentinamente ofuscado pelo brilho do sol que escapa entre as ripas da janela de madeira. Leva o antebraço aos olhos. Não pode enxergar. A terapeuta – Emengarda é seu nome – percebendo o desconforto de Svensson corre na velocidade que lhe é possível e fecha as cortinas para alívio do rapaz. "Desculpe meu filho", ela diz. "O ambiente escuro é o mais correto para a nossa sessão. Me esqueci de puxar as cortinas anteriormente". Na penunbra quase não é possível para Svensson enxergar Emengarda ou qualquer outra coisa que esteja diante de seus olhos. Aos poucos, porém, acostuma-se com a cegueira momentânea e já consegue distinguir o vivo do não-vivo. "Sente-se meu jovem". Sevensson assusta-se ao escutar tal voz sussurada em seu ouvido, depois de minutos de silêncio. Seu coração se sobressalta, mas em questão de segundos tudo está de volta ao normal. Svensson senta-se em um divã. Pasmem! Não é um divã! Ele olha com mais atenção o objeto em que depositou as nádegas. Apalpa-o. Uma cadeira de praia? "Sim uma cadeira de praia, meu filho". "O objetivo aqui é deixá-lo confortável". Mal sabe Emengarda que Svensson pouco vai a praia e quando vai, gosta de ficar estirado na areia. Ele adora areia. Além disso, cadeiras de praia incomodam e com aquela Swensson não se sentia diferente."Bem, meu jovem", começou Emengarda. "Meu nome é Emengarda, sou psicanalista-comportamental e espero que a partir de hoje começe um novo tempo em sua vida". Svensson não se moveu, parecia aguardar que algo de útil fosse dito. "A Dra. Lindsay Lohan já me contou sobre o seu caso e vejo que a situação é um tanto delicada no momento, mas nada que não possa ser contornado". Nem bem terminada a frase, Emengarda emendou mais uma, sem dar chance para que o paciente a interpelasse. "Gosto de me definir como uma psico-terapeuta messiânica e", antes que terminasse foi interrompida por Svensson, que parecia ter uma pergunta assaz pertinente. "Quantos anos você tem?", indagou. Segundos e uma engasgada depois, Emengarda proferiu a resposta. "Não que seja da sua conta, mas completo 105 anos semana que vem". "Nossa e com esse vigor", pensou Swensson. "Sim tenho muito vigor mesmo, meu rapaz". Olhos arregalados. "Nossa, ela é telepática", pensou novamente Svensson. "Sim, sou telepática", respondeu antes que o pensamento de Svensson houvesse findado. "Meu Deus, a senhora vai ficar lendo tudo que passa na minha cabeça?", perguntou Svensson Swensson irritado. "Não, vamos ao trabalho".


Emengarda sentou-se em um banquinho retirado de um piano que provavelmente havia sido vendido há anos, já que não havia nenhum instrumento musical na sala, a não ser uma tuba que se encontrava encostada ao lado da cômoda. O banquinho estava atrás de uma mesa de madeira, preta e maciça, que cobria o corpo de Emengarda, deixando a mostra apenas a parte de cima de seus olhos, cílios, sobrancelhas e cabelos, que pareciam ser brancos, roxos talvez. Svensson mais uma vez achou Emengarda engraçada e até ficou com vontade de rir daquela cena ridícula. Chegou a esboçar novamente um sorriso, mas depois lembrou-se que a distinta senhora-matusalém lia pensamentos, ouvia era o verbo mais apropiado, já que Svensson não se imaginava com letrinhas passando ao redor de seu cérebro. "Qual é o seu problema?", questinou secamente Emengarda. Svensson congelou um instante, tão pequeno quanto um instante pode ser. Aquela frase havia soado ambígua em seus ouvidos. Ele não sabia se a consulta já havia começado ou se Emengarda havia lhe ofendido, chamando sua atenção como a uma criança mimada. "Não, não é isso, meu jovem. Eu quero saber porque você acha que deve freqüentar um psicológo?". "Como assim?", pensou Swensson ou Svensson."Ela já não havia discutido meu caso com a doutora Lindsay Lohan?". Nesse momento, a pequena senhora fez um esforço tremendo para se postar em pé no banquinho. Colocou as duas mãos espalmadas sobre a mesa de madeira maciça preta, projetou o pescoço na direção de Svensson e o olhou com ar desafiador."Eu sei o que Lindsay Lohan me disse, só que eu quero ouvir de você". Svensson continuou achando a pergunta cretina, já que o que Lindsay havia dito para Emengarda era o que ele havia dito para Lindsay. Senão, qual havia sido o propósito de todas aquelas sessões anteriores. Svensson acomodou-se na cadeira de praia e disse, como quem diz qualquer coisa. "O meu problema é uma simples questão: preciso decidir se amo minha vida ou não". "Como assim? Explique melhor isso."disse Emengarda. "Simples", disse novamente Svensson e continuou "Preciso decidir se estou disposto a lutar pela minha vida ou simplesmente acabar com tudo". Uma centelha de dúvida faíscou as sinapses da psicanalista-comportamental."Então, o suicídio passa por sua cabeça?", perguntou. "Acho que não tenho escolha. A senhora não consegue ler isso em minha mente?", respondeu Svensson. A esta provocação, Emengarda iria responder com mais uma pergunta, mas o sinal de que a sessão havia terminado soou".

Por Bruno D Angelo
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