Exagerou-se no Exagero
(por Domingos Oliveira Medeiros)
A propósito do artigo de Carlos Luiz de Jesus Pompe, “Evidências e Exageros”, e sem pretender estabelecer polêmica ou trocadilho em torno do assunto, entendo que há evidente exagero no fato de o autor atribuir pouca importância ao ensino na formação das pessoas. A premissa que foi levantada, segunda a qual “o homem forma todos os seus conhecimentos, sensações”, enfim, a partir do mundo sensível, “e da experiência no seio desse mundo”, afigura-se-me totalmente falsa.
Na verdade, não é o mundo que tem que mudar. É a educação que tem que sofrer alterações pedagógicas. Voltar às suas origens. Restabelecer a qualidade do ensino. Vale dizer, o ensino como forma de ensinar a pensar. A produzir idéias e opiniões. A comparar. Analisar. Formar juízo. E cultivar valores e crenças universalmente aceitos. Ensino que não deve, apenas, ater-se ao caráter meramente científico. Há que imprimir-lhe o caráter humanístico. Espiritual . Do amor ao próximo. Ciência e religião não são necessariamente incompatíveis. Antes, são complementares.
O ataque dos norte-americanos ao Afeganistão em nada aproveita a questão da escolaridade, como forma de exemplificar e justificar que pessoas com boa formação escolar possam praticar atos insanos. O fato, é sabido, é de cunho político-econômico, e tem a sua origem na prepotência e no desejo de vingança do presidente daquela potência mundial, que viu seu orgulho e sua pretensa segurança absoluta caírem por terra, diante de um ato abominável, por certo, mas não totalmente desprovido de razões e justificativas sob o ponto de vista dos terroristas.
O alvo escolhido, evidentemente, não foi por acaso. Não houve coincidência. Não houve um ato impensado, indeterminado, à revelia. O alvo escolhido o foi por alguma razão inserta no relacionamento histórico daquelas duas nações. Em relações internacionais não existem santos.
O interesse americano nos poços de petróleo daquela região, na verdade, sobrepõe-se até, ouso dizer, à própria indignação do presidente Bush, com o ato terrorista em si; tanto que, o líder americano já ensaia novo ataque; desta vez ao Iraque, ainda que contrário às decisões da ONU e de alguns países da Europa. E tudo sob o manto do combate ao terrorismo.
Não há transformação no mundo capaz de mudar pessoas como Bush; totalmente arredias ao cuidado com o meio ambiente, com a natureza, com as pessoas. O melhor e mais sensato seria que o “pequeno xerife” tivesse a oportunidade de um ensino de qualidade.
Domingos Oliveira Medeiros
01 de outubro de 2002
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