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Artigos-->Fragrância Feminina na Poesia - Ana Cristina César -- 01/10/2002 - 11:48 (Fernanda Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fragrância Feminina na Poesia



Estamos dando continuidade a publicação destes pequenos artigos que visam mostrar um pouco da escrita poética feminina no cenário nacional e mundial.

Pretendemos, tão somente, falar da emoção de nossas descobertas literárias ao nos depararmos com a vasta produção feminina na construção de uma identidade poética.

É antes de tudo, uma gota de perfume que permitirá ao leitor curioso, buscar essências a partir da publicação destes textos.







Ana Cristina César





Ana Cristina César nasceu no Rio de Janeiro, em 1952. Viveu entre Niterói, Copacabana e os jardins do velho Bennet.

Era poeta, tradutora e ensaísta. Alguns autores a consideram como representante da geração da poesia dita marginal. Ao meu ver, Ana Cristina César está além de definições ou rótulos. Era uma escritora intersticial. Não encontramos em sua escrita influências marcantes de outros autores, movimentos ou escolas literárias. Há um estilo Ana Cristina César de escrever. O seu discurso, quase sempre na primeira pessoa do singular, revela-nos sobretudo, um diálogo consigo mesma frente a sua visão e interação com vários mundos. Um mergulho interior amplificado em letras e cores destinados aos olhos de quem sente e percebe a palavra, para além dela própria. Ana Cristina valoriza a inquietude tão inerente, a quem busca na palavra esta tradução e verbalização do ser. Sobre ela, escreveu Cristina Mutarelli "Sua linguagem resiste a ondas e fórmulas fáceis. Ana queria a palavra depurada, decantava as coisas e, sabia, como Manuel Bandeira que extrair o sublime do cotidiano não é tarefa das mais fáceis”.

Residiu em Londres por algum tempo. Quando da sua volta ao Brasil, escreveu para jornais e revistas alternativos. Participou ainda da Antologia 26 Poetas Hoje, de Heloísa Buarque. Era formada em Literatura com Mestrado em Comunicação. Através da Funarte publicou pesquisas sobre literatura e cinema. Seus primeiros livros “Cenas de Abril” e “Correspondência Completa” foram editados através de publicações independentes.

Retorna ainda à Inglaterra, para fazer uma pós-graduação em tradução literária em Essex. Sua tese foi uma tradução do conto “Bliss”, da escritora Katherine Mansfield. É quando publica Luvas de Pelica. Em sua volta para o Brasil trabalhou em jornalismo e televisão. Escreveu “A Teus Pés” em 1982, através da Editora Brasiliense

Seus últimos versos refletem bem a angústia que vivia : "Estou muito compenetrada de meu pânico/ lá dentro tomando medidas preventivas”.

Ana Cristina César suicidou-se no dia 29 de outubro de 1983. Tinha 31 anos.



Obras:

Cenas de Abril (1979); Correspondência Completa (1979); Literatura não É Documento (1980); Luvas de Pelica (1980); A teus Pés (1982); Inéditos e Dispersos (1982); Escritos da Inglaterra (1988); Escritos no Rio (1993); Correspondência Incompleta (1999).



Poemas de Ana Cristina César:





A Ponto de Partir



A ponto de

partir, já sei

que nossos olhos

sorriam para sempre

na distância.

Parece pouco?

Chão de sal grosso, e ouro que se racha.

A ponto de partir, já sei que nossos olhos sorriem na distância.

Lentes escuríssimas sob os pilotis.





Um Beijo



que tivesse um blue.

Isto é

imitasse feliz a delicadeza, a sua,

assim como um tropeço

que mergulha surdamente

no reino expresso

do prazer.

Espio sem um ai

as evoluções do teu confronto

à minha sombra

desde a escolha

debruçada no menu;

um peixe grelhado

um namorado

uma água

sem gás

de decolagem:

leitor embevecido

talvez ensurdecido

"ao sucesso"

diria meu censor

"à escuta"

diria meu amor





Que deslize



Onde seus olhos estão

as lupas desistem.

O túnel corre, interminável

pouco negro sem quebra

de estações.

Os passageiros nada adivinham.

Deixam correr

Não ficam negros

Deslizam na borracha

carinho discreto

pelo cansaço

que apenas se recosta

contra a transparente

escuridão.







Fama e Fortuna



Assinei meu nome tantas vezes

e agora viro manchete de jornal.

Corpo dói - linha nevrálgica via

coração. Os vizinhos abaixo

imploram minha expulsão imediata.

Não ouviram o frenesi pianíssimo da chuva

nem a primeira história mesmo de terror:

no Madame Tussaud o assassino esculpia

as vítimas em cera. Virou manchete.

Eu guio um carro. Olho a baía ao longe,

na bruma de néon, e penso em Haia,

Hamburgo, Dover, âncoras levantadas

em Lisboa. Não cheguei ao mundo novo.

Nada é nacional. Desço no meu salto,

dói a culpa intrusa: ter roubado

teu direito de sofrer. Roubei tua

surdina, me joguei ao mar,

estou fazendo água. Dá o bote.





Ulysses



E ele e os outros me vêem.

Quem escolheu este rosto para mim?



Empate outra vez. Ele teme o pontiagudo

estilete da minha arte tanto quanto

eu temo o dele.



Segredos cansados de sua tirania

tiranos que desejam ser destronados



Segredos, silenciosos, de pedra,

sentados nos palácios escuros

de nossos dois corações:

segredos cansados de sua tirania:

tiranos que desejam ser destronados.



o mesmo quarto e a mesma hora



toca um tango

uma formiga na pele

da barriga,

rápida e ruiva,



Uma sentinela: ilha de terrível sede.

Conchas humanas.





Toda Mulher



a coisa que mais o preocupava

naquele momento

era estudo de mulher



toda mulher

dos quinze aos dezoito



Não sou mais mulher.

Ela quer o sujeito

Coleciona histórias de amor.





Sete Chaves



Vamos tomar chá das cinco e eu te conto minha

grande história passional, que guardei a sete chaves,

e meu coração bate incompassado entre gaufrettes.

Conta mais essa história, me aconselhas como um

marechal do ar fazendo alegoria. Estou tocada pelo

fogo. Mais um roman à clé?

Eu nem respondo. Não sou dama nem mulher

moderna.

Nem te conheço.

Então:

É daqui que eu tiro versos, desta festa – com

arbítrio silencioso e origem que não confesso –

como quem apaga seus pecados de seda, seus três

monumentos pátrios, e passa o ponto e as luvas





Psicografia



Também eu saio à revelia

e procuro uma síntese nas demoras

cato obsessões com fria têmpera e digo

do coração: não soube e digo

da palavra: não digo (não posso ainda acreditar

na vida) e demito o verso como quem acena

e vivo como quem despede a raiva de ter visto





Poesia



jardins inabitados pensamentos

pretensas palavras em

pedaços

jardins ausenta-se

a lua figura de

uma falta contemplada

jardins extremos dessa ausência

de jardins anteriores que

recuam

ausência freqüentada sem mistério

céu que recua

sem pergunta





Flores Do Mais



Devagar escreva

uma primeira letra

escreva

nas imediações construídas

pelos furacões;

devagar meça

a primeira pássara

bisonha que

riscar

o pano de boca

aberto

sobre os vendavais;

devagar imponha

o pulso

que melhor

souber sangrar

sobre a faca

das marés;

devagar imprima

o primeiro olhar

sobre o galope molhado

dos animais; devagar

peça mais

e mais e

mais



Fonte de Pesquisa:

- Sites:

http://www.geocities.com/SoHo/Atrium/2755/anacesar.htm

http://www.terravista.pt/mussulo/1701/ana_cristina_c%C3%A9sar.htm

http://www.bn.br/bibvirtual/acervo/autoresbrasileiros/ana_cristina.htm

http://sites.uol.com.br/portalliterario/ana_cristina_cesar.htm

http://www.an.com.br/1999/dez/07/0ane.htm





Fernanda Guimarães

Em 01.10.2002



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