“Há momentos assim na vida, para que o céu se abra é preciso que uma porta se feche.” José Saramago
INSTINTO PRIMITIVO
À minha frente teu corpo banhado de luz e sombra
Revela e oculta formas perfeitas de sedução.
Uma rosa vermelha e outra lilás ardem em fogo ,
Pedem pela violação lasciva de meu instinto mais primitivo.
Posso sentir toda sede e toda voracidade
Escorrerem pelo teu corpo
E explodirem em luz dentro de teu triângulo negro
(Feito fonte e foz num querer –sem- ter ciclicamente infindo).
Não sinto mais minha presença física:
Agora minha razão e meus sentidos se resumem
Na inconsciente necessidade de estar dentro de ti.;
De sentir teu ventre afoito
Freneticamente me devorando.
Na luta selvagem dos corpos
Salivas se misturam,
Portas se abrem
E segredos são devassados.
Sinto teu cheiro de fêmea e teu gosto de pecado.;
Sinto o calor de teu cerne queimar tudo que em meu corpo
Invade teu corpo.
A ânsia pelo êxtase supremo
Parece não aceitar a simples consumação do ato,
Buscamos no infinito o tempo
Quase exato para que a paz possa ser adiada.
Teus olhos felinos ainda me guardam
E ainda guardam uma fome insaciável ...
Minhas mãos caminham pela tua silhueta
E , num ato imprescindivelmente brutal,
Prendem a carne tênue e libidinosamente
Cálida de teu quadril.
Somos presa e predador
Num desencontro de papéis ,
Onde ambos se caçam e se devoram.;
Numa fuga necessária
Para o encontro mais e mais voraz dos corpos.
A luta agora chega a um ponto cegamente violento.
A rosa vermelha despetala-se em êxtase
E feito cabalística reversa
Se faz botão.
Meu ser agora unge sua pele
Sob úmida e tépida forma de amor.
Tua boca silente
Passeia pelo meu corpo suado:
Ela parece expressar um carinho humanamente irreal.
Teu lábio –pétala
Se acolhe em minhas mãos
E ,neste instante,
- Ao menos por um instante -
Somos seres únicos
E o paraíso se revela entre quatro paredes .