CAMINHO DE SANTIAGO
Elane Tomich
Metade de mim foi a passeio
Metade entrou no coração
Hibernou-se no entremeio
De calcificada emoção.
De repente foi um meio
De enganar a ilusão
Um coração com recheio
De entre folhas, doce paixão
Metade de mim foi dormir
Outra metade sonhar
Entre duendes e magos
Hoje me ponho a rir
De tanto sonhar viajar
o Caminho de Santiago
DOR DE ESTRADA
Elane Tomich
Dor de estrada
Acaba em curva,
Dor de balada
Em lágrimas, turva,
Escorre em vales,
Duras encostas.
Tão verdes males
de mim não gostas,
tento façanhas
rolando escarpas,
subo montanhas
quebro meu verso.
Sinto as farpas
Do meu inverno,
No meu avesso
Acho um desvio,
Flutuo e desço
Em minhas veias.
Como nas águas
de um quente rio,
e nesse cio,
em quedas d água,
sinto anseios,
quebrando mágoas
Andarilho
Elane Tomich
Trazes no olhar
O brilho
De outro lugar.
Caminhante,
Trazes no peito
Ofegante,
Um falar de
outro jeito.
Peregrino,
Trazes nas mãos
Um sino,
Hino
De outros
corações.
Chegada ou Partida
Elane Tomich
Não! Não foi assim tão ruim,
estar entre o sonho e a verdade.
Acordar com frio, sim,
transpondo o portal da saudade.
Não sei se revolta ou volta,
ou, se foi dever de partida.
O que vi de volta à volta
não sei se era morte ou vida .
No meu peito embolorado
saudade com data vencida.
punha-me em dois lados,
de um infinito resumido.
Do lado do ir embora
coube a um hiato de memória
definir, certeira, a hora
de contar e ouvir histórias.
A mão, a mim estendida,
fosse ela de quem fosse
convidava uma ida à vida
mas a asma trouxe a tosse ...
No meio de duas idas
e de uma chegada e meia
uma paixão dividida
calou-se na pré-estréia..
Na casa desta charada
onde sorriu-me o sorriso
um anjo de asa quebrada
sem um pingo de juízo...
...veio, desvencilhar-me da ida
condução em travessia
à chegada da saída
onde o medo se esvazia!
Se alguém por um acaso
também viu este anjo
com um sorriso de ocaso
e olhos que sonham banjos...
...diga-lhe que não o esqueço
dentro da minha saudade!
Ele sabe o endereço
da minha perplexidade.
Procissão
ElaneTomich
Andei um trecho do dia,
muitos eus, todos sem nome,
com outros tantos pronomes.
Vultos sós, em romaria.
Não era rua ou estrada,
crepúsculo ou alvorada,
trilha de ouro, trigal
(que nunca vi, mas pensei).
Cada pendão, radial,
de uma luz matinal,
de sonhos que não plantei.
Minha alma, em procissão,
desses eus tão diferentes
uns tristes, outros contentes
dispersos na multidão.
Um tem meu nome e registro,
outro, um vulto sinistro.
Um, ama a filosofia,
outro, veste fantasia.
Todos são alegorias,
de minhas verdades- mentiras,
desejos em hierarquia,
matizes de cinza em tiras.
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