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Teses_Monologos-->A Palavra dos Animais -- 04/04/2003 - 20:55 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A PALAVRA E OS ANIMAIS
(por Domingos Oliveira Medeiros)

A palavra é, por certo, o maior diferencial entre o ser humano e os outros animais que habitam este planeta. No entanto, esta diferença, que nos coloca num patamar superior em relação aos outros animais, ditos irracionais, tem sido, exatamente, a principal responsável pela aproximação, cada vez maior, de alguns seres humanos que, fazendo mau uso das palavras, guardam fortes semelhanças com os nossos companheiros de planeta, os bichos selvagens, as feras, os animais.

Assim acontece, principalmente, com o animal político. Este animal, que todos conhecemos, que é bem falante, mas, ao contrário do que manda o bom senso, nem sempre diz o que deve ou nem sempre pensa o que diz, no afã de confundir, de enganar, de distorcer os fatos para disso tirar proveito em benefício próprio, ou de terceiros.

Mas não se pode confundir o mau uso da palavra com as verdades de cada pessoa. A verdade, como todos sabemos, é única. Não fosse assim não seria verdade. Entretanto, existem as chamadas verdades aparentes, que não se confundem com as distorções dos fatos de que acima falamos. Nas distorções, há evidente interesse em esconder parte dos fatos. Já nas verdades aparentes, todas as partes dos fatos são vistas, segundo a ótica de cada olhar, mas não existem distorções dos fatos. Nas distorções, há evidente conflito de pontos de vista. Nas verdades aparentes, não.

Na ocorrência de um acidente de automóvel, por exemplo, a equipe de socorro, geralmente chefiada por um médico, tem a sua área de interesse, a sua verdade aparente, voltada para as eventuais vítimas. No caso, a visão do fato para o médico se concentra no estado de saúde das pessoas envolvidas com o acidente. Verifica se há fraturas nos membros superiores , inferiores e na coluna vertebral, com atenção especial para o pescoço, para a área cervical e procura imobilizar a vítima. Se há hemorragia, procura estancá-la. Se existe dor, aplica sedativos. Realizados os primeiros socorros, providencia o encaminhamento da vítima para o hospital mais próximo.

Para o policial de trânsito, para o perito, psicólogo, economista, administrador de empresas, ou para o engenheiro mecânico, o acidente é visto de várias maneiras, segundo a visão ou a verdade aparente, ou área de interesse de cada um deles. Primeiro, pelo lado da máquina, se houve falha de freios, se os pneus estavam carecas, etc. Depois, outros atem-se aos aspectos do tempo: se a pista estava molhada, se havia nebulosidade, etc. Uma outra verdade se concentraria no comportamento do motorista: se era jovem, se estava bêbado, estressado, preocupado e assim por diante.

O economista e o administrador de empresas verá o acidente como causa de aumento das despesas do INSS, que terá que pagar os benefícios a quem faz jus o trabalhador, nos custos do Estado, por conta do tratamento hospitalar a que deverá ser submetido, prevendo, ainda, uma queda de produtividade na empresa onde o motorista acidentado trabalhava e, também, uma queda do consumo e da arrecadação de impostos. Estas são as verdades aparentes. Não há conflito entre elas. Apenas visões diferentes.

Já no caso das distorções a coisa muda de figura. Basta lembrar, de início, o caso do R$1,34 milhão encontrado na empresa da governadora do Maranhão. Esta era a única verdade que deveria ser objeto de discussão. Verdade porque, em primeiro lugar, o dinheiro existe e o competente processo também. E houve, ainda, a ordem judicial para investigar a empresa. Esta é a única verdade. Mas, vieram as distorções: que se tratava de perseguição política. Que não se devia investigar nada, sem antes avisar aos interessados. Que todo o mundo recolhe dinheiro por fora para ajudar na campanha eleitoral, e coisas do estilo. Aqui há conflitos. E os pontos de vista são diferentes. Não tratam do mesmo fato. É a chamada distorção.

Assim tem acontecido, também, com as greves, de modo geral. Principalmente a greve de alguns servidores públicos. Os servidores passam dias, meses, anos e anos reclamando dos salários. Até que um dia os professores, por exemplo, resolvem entrar em greve. E o governo diz que a greve é política. Que só volta a negociar se os grevistas suspenderem a greve. Que a greve é proibida pela Constituição. Que a greve dos professores deixa milhares de alunos sem a única refeição de que dispõem: a merenda escolar. Como se os professores fossem os responsáveis pela fome neste país.

O exemplo mais recente é o caso da invasão da fazenda do presidente. Há mais de 50 anos que se luta neste país para implementar uma reforma agrária de peso. Que resolva, de vez, o problema da distribuição de terras improdutivas, que sabemos muitas, pelo Brasil afora. E o governo, em doses homeopáticas, vai empurrando com a barriga, enquanto milhares de hectares de terras são descobertas irregulares, nas mãos de grileiros, em processos que se arrastam anos e anos, muitas vezes por descaso ou desinteresse dos próprios governos estaduais e federal.

Quando um grupo de trabalhadores, que deseja terras para trabalhar, para produzir, principalmente nessa época de desemprego crescente, na onda da globalização, o governo faz pé firme e não dá uma resposta consistente, ampla, definitiva, transparente para a questão da reforma agrária. Aí, premidos pelo desespero, o movimento dos sem terra resolve ocupar uma fazenda do filho do presidente. E começam as distorções: puro terrorismo, interesses políticos e eleitoreiros.

Chegaram, inclusive, a dizer que o Partido dos Trabalhadores estava envolvido com tais invasões. É claro que essas invasões não podem ser aceitas. É claro, também, que existem oportunistas que utilizam o movimento para seus interesses escusos. Mas o governo precisa restabelecer a verdade. Separar o joio do trigo.

Prender os comprovadamente baderneiros, mas sentar-se à mesa de negociações com os que, realmente, querem terras para trabalhar. E dar uma solução de vez ao problema. E não ficar falando que atitudes como esta caminham na direção oposta da democracia. Será que a democracia não estaria, também, na contramão de tantas atitudes (ou falta de atitudes) dos nossos governantes?

O país dito mais democrático do mundo, os Estados Unidos, não se cansa de, em nome da democracia, invadir países, bombardear civis e crianças inocentes, sob o argumento de acabar com o terrorismo mundial. Faltou dizer que tipo de terrorismo. Em que locais? E se haverá, como até agora os fatos tem tudo indica que sim, exceções à regra.

Domingos Oliveira Medeiros

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