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Infantil-->O menino que beija-o-boi -- 06/03/2003 - 18:50 (BRUNO CALIL FONSECA) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O menino que beija-o-boi
Eu sei... Eu sei que tratar de, entre outros assuntos, boi, na semana em que se deu o início da onda de ataques terroristas aos EUA, é estar fora do contexto. Pior se forem reminiscências. Aí é que a coisa fica prosaica, mesmo. Mas o que se há de fazer. Quem não bebeu nos livros, há de buscar na fonte.
Em feriado prolongado, sempre ocorrem-me coisas peculiares. Desta vez, no de setembro, aconteceu na beira do Rio Paranaíba, abaixo da represa de São Simão. Arranchamos bem à margem do Rio. Comigo levei, na memória, a imagem de uma criança que não a conheço e que, na exposição do Camaru, beijara um boi. Eis a primeira criança.
No dia seguinte, pela manhã, saímos para a pescaria. Meia hora depois, desisti. Notei que naquelas paragens restavam pouco mais do que três alqueires de mata ciliar. Em volta, pastagens já secas. Nas extremidades da mata havia uma coivara já ressecada de varas retas. Ouviam-se piados de pássaros de caça. Aquela capoeira, aquele capim seco e aqueles pios fizeram bater em mim o saudosismo de quando criança. Eis a segunda criança.
Como não pescava, tratei logo de fazer uma armadilha de pegar pássaros. Pensei no laço. Muito violento. Leva a presa, de imediato, ao estrangulamento. Optei pela arapuca. Leva ao mesmo fim, mas não parece uma guilhotina. Decidido, cortei e aparei os paus. Em seguida providenciei as amarras.
Logo chegou o Tales, a terceira criança. Ficou observando-me. Perguntei:
— Você sabe o que é isso?
Olhou, pensou e respondeu com indiferença:
— Parece-me uma arapuca! É?
Eu, revelara-me um saudosista conservador extremado. Mas Tales não. Nasceu e viveu na cidade grande. Nunca mexeu com essas coisas. Sabia para que servia. Não acrescentou mais nada à conversa. Mas antes que desse-me uma lição sobre ecossistema e dissesse-me que era crime caçar pássaros nativos, argumentei: Tales, eu estou aqui fazendo uma arapuca. No meu tempo de criança isso era coisa comum. Agora pergunto-te: digamos que alguém lhe desse meio quilo de arroz para você passar cinqüenta dias, aqui na beira do rio, perto desse descampado, o que você faria? Tales não teve dúvida. Respondeu de imediato:
— Comeria 10 gramas por dia.
Dividira os 500 gramas por 50 dias. Tales revelara-me um racionalista extremado.
A primeira criança era um menino de rua que o Manoel Serafim fotografara no parque de exposições Camaru, em Uberlândia. Tinha capturado-o beijando um boi nelore. A não ser o boi branco e gordo e a criança suja e pobre, não consegui abstrair mais nada daquela foto. Na Índia, seria uma cena comum, apenas um menino adorando o deus da fertilidade, crença cuja origem data de séculos antes de Cristo. Aqui, por certo, a crença no boi equivale à crença num amontoado de dólares, pouco importando a criança. De qualquer maneira ela não deixava de revelar-me a simbologia da religiosidade extremada.
Depois de dois dias, com a minha arapuca armada e sem que capturasse um único pássaro, pude compreender o quanto a natureza estava devastada. Seria uma perda de tempo ensinar Tales a montar arapuca. Já tinha em mente o que seria uma ração do futuro. Então, aderi ao seu racionalismo. Ademais, com 14 anos já operava, no micro, um simulador de vôo. Já pensava entrar nos computadores do Pentágono, e, em assim pensando, nada o impediria de pensar em interferir nos computadores dos boeings; comandando três, pensar em mirar dois contra as duas torres do edifício World Trade Center NY, e o terceiro contra o Pentágono só para rir da arrogância norte-americana.
Fantasias, fantasias em tempo real, eu sei. Mas eu sei também que a causa maior de tudo isso é o menino que beija-o-boi.

jbguim@cartasdocerrado.com.br
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