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Poesias-->TEMPO ANTIGO -- 15/01/2007 - 11:56 (Délcio Vieira Salomon) |
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TEMPO ANTIGO
Délcio Vieira Salomon
Sou do tempo
em que homem usava guarda-chuva
e mulher sombrinha.
Um sempre preto como uva.
A outra a cor que o vendedor tinha.
Complemento do sapato
em tempo de chuva, a galocha.
Afinal ninguém era pato
para na água os pés molhar
e resfriado para casa levar.
Naquele tempo
mulher vestia saia
homem calça comprida.
Só ela calçava sandália
e ele sapato de bico fino.
Fazer tudo o contrário
é coisa que hoje não atino.
Ela só usava "meia-de-mulher"
Comprida, de seda cor da pele
e com cuidado pra não desfiar.
(inda me lembro menino a pedir
à minha mãe: - "tem meia de mulher veia
para fazer bola de pano e jogar futebol?").
Todo homem usava meia com liga
abaixo do joelho presa.
Cabelo comprido, só mulher.
Homem a cabeça
quase raspada tinha.
Mulher vaidosa era metida.
Homem perfumado, veado.
As meninas pulavam corda
brincavam de boneca
ou então de roda,
quando não de passar anel.
Só menino jogava bola:
a de futebol – de couro ou de pano,
a de gude era de vidro.
Na rua soltava o pião no chão
ou o papagaio no ar,
e todos tinham sua manivela.
Ninguém enrolava linha
na latinha, nem comprava papagaio pronto.
Só menino caçava passarinho,
ou jogava finca no quintal.
Sexo mesmo pra valer
só quando já homem ou já mulher,
embora no mato houvesse
troca-troca de quando em vez.
Esse pecado se chamava indecência
na confissão pro padre entender
e não pesar na penitência.
Naquele tempo havia Papai Noel
que descia à meia noite na chaminé
pro presente no sapato à janela colocar.
Nossos pais nos julgavam inocentes
e nós fingíamos ser para os contentar.
O quarto mandamento observávamos,
a seus desejos sempre obedientes.
Hoje a gente chama
esse tempo de antigo.
Deitado na cama
penso aqui comigo:
-Por que esse tempo não volta mais?
Mas se voltasse, não estaria lá.
Se não era melhor,
ao menos mais divertido era.
Naquele tempo a rua era nossa
nela se brincava e nela moças e rapazes
namoravam de mãos dadas
indo para lá e pra cá.
Nela, meninos, corríamos em campo aberto.
Quando conto isso pra minhas netinhas
elas babam e admiradas ficam
e pedem: vovô, conta mais!
E dizer: aquele tempo existiu
nunca foi história da carochinha.
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