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Cronicas-->REFLETINDO SOBRE UMA MAQUINA DE DATILOGRAFIA. -- 12/04/2004 - 16:45 (sandra ethel kropp) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Há vinte anos atrás, numa casa em Pinheiros, eu aprendia usar máquina de escrever. Numa sala com mais de cem maquinas, perdia-me entre a falta de coordenação motora de meus dedos, que não me obedeciam, e meus olhos, que desviavam da maquina para admirar aqueles que muito experientemente pareciam tocar piano. Em maquina de escrever. Apesar do som estar longe de ser o mesmo( ou ter alguma semelhança).
O resultado de tudo isso: eu, perdida em meio a maquinas de escrever e pensamentos que não me esclareciam o motivo de estar ali.
Além disso, achava aquele vai-e-vem da maquina de escrever chato, repetitivo e monótono. Se a palavra trabalho fosse sinónimo disso, meu desejo era talvez seguir por um caminho diferente.
Triste imaginação aquela de mesa de repartição publica, com aquele monte de papeis acumulados, uma cara de total saco-cheio e a tal maquina de escrever na minha frente. Talvez a usasse como apoio para livros, pendências, etc.
MAS ERA NECESSÁRIO.( não pergunte porque....).
Aqui está a resposta:
Meus pais, antevendo meu futuro brilhante, já me viam sentada à mesa datilografando meus trabalhos à maquina. Primeiro os escolares e logo em seguida os da faculdade, bem como a necessidade de usar uma maquina em meus futuros empregos.
Está certo que eu tinha somente catorze, estava na oitava série. Mas faltavam somente três anos para que eu entrasse na faculdade. E aí, como seria se eu simplesmente NÃO SOUBESSE?
Computador ainda era exceção. Falava-se nuns tais de T.K. 82,83, 84...., mas ao mesmo tempo, maquinas de calcular e escrever supriam perfeitamente as tais funções destes T.K.s.
Meus pais de forma nenhuma se esqueceram dos tais computadores. No terceiro colegial lá estava eu num curso de computação com programação linear, mesmo sem nunca ter ouvido a tal palavra ou ter visto coisa mais abstrata na vida.
Eu terminei o colegial, entrei na faculdade, e a tal maquina realmente mostrou-se necessária. Mas meus trabalhos de faculdade já por sorte puderam ser datilografados em máquinas elétricas, muito mais fáceis de manusear. Apesar de existirem quando fiz o curso, depois vim saber que :"devemos sempre aprender pelo modo mais difícil"( quem sabia usar a mecànica, conheceria a elétrica, mas o contrario não era valido).
O teclado dos computadores era o mesmo das máquinas de escrever, salvo pequenas diferenças. Já na faculdade, nas aulas pré- históricas de computação, pude perceber que o tal curso serviu para alguma coisa, porque ao menos eu não "catava milho" como muitos. Desenvolvi-me mais rapidamente na utilização do computador porque já tinha visto um teclado e alguma coisa de programação ou lógica. O bicho mostrou-se um pouco mais amigável numa época em que era muita coisa para aprender em pouco tempo.
E no momento em que o óleo esquentou e milho virou pipoca, não se sabia por onde começar a cata-las. Tecnologia é assim. Quando começa, estoura muitas de uma vez só, e temos que ser rápidos o suficiente pra não deixar queimar, se quisermos aproveitar todas.
Pipocou planilha eletrónica, editor de texto, modelo de computador. Tudo de uma vez. Enquanto conhecíamos uma versão de planilha eletrónica, já aparecia no mercado outra muito mais moderna. O mesmo acontecia com o modelo do computador: enquanto nós brigávamos com a lentidão de um modelo, já existia outro muito mais rápido.
Mal tínhamos acabado de degustar a pipoca salgada, já havia outra mais quentinha a nossa disposição.
Um computador de um ano já era velharia a partir do momento em que mal permitia rodar adequadamente uma planilha eletrónica. Mas e a grana para comprar outro?
Enquanto a grana não surge, a gente vai usando a tal velharia de um ano. E minha filha de seis anos hoje aprende a ligar e desligar um computador sem nenhuma aula. Apenas olhando eu fazer. Logo ela estará me cobrando um computador mais potente pra rodar seus programinhas. Ela dirá apenas que "quer", e me questionara:
-Mãe, você não vê que ele demora pra carregar? Como eu posso mexer nisso?" E eu, sem resposta, direi a ela que este serve, porque ela só tem seis anos. Porque o principio de ligar e desligar um computador é o mesmo, e primeiro ela tem que aprender isso. E a datilografar também. Não a catar milho, porque assim corre o risco de queimar a pipoca de tanto tempo que demorará.
Mas assim como todo pipoqueiro tem seus segredos( e bons segredos) pra fazer sua pipoquinha no ponto certo- e a gente sempre querer a pipoca daquele pipoqueiro, que cá pra nós e milhões de vezes melhor que a de micro- as crianças também tem seu tempo pra virar bicho de computador. Eu não sei quanto demora.Mas sei que não precisamos exigir que eles façam `MACROS em excel" com dez anos, sendo que não sabem o significado de "macro".
E lembrarei das tais aulas de datilografia que tive aos catorze anos, quando achava tudo aquilo uma chatice( para não dizer outra coisa), mas que no fundo me permitiram explorar uma máquina de escrever, sem que eu mesma me pressionasse a aprender em três meses, como se estivesse num teste para secretária Junior. O fato de eu saber as letras do teclado me foi útil e vantajoso. Mas confesso que reconheci isso muitos anos depois, quando me dei conta que não precisava catar milho num teclado de computador.
Questiono-me se não é muito cedo pra que as crianças entrem em contato com "tanta tecnologia" e tanto consumismo ao mesmo tempo. Não há como restringir muito, porque as escolas pedem pesquisas, os amigos têm jogos e vídeo-games, as salas de internet estão cada vez mais comuns. Talvez seja mais valioso pra nossos filhos um pouco de esforço manual e mental. Tipo de maquina de escrever. Chato pra caramba. Sem que depois eles nos perguntem:"quando eu vou ganhar uma dessas?". Na hora, vão querer jogar as tais maquinas longe.
Muitos podem achar o tal curso de datilografia uma babaquisse, só realizado por quem procura emprego de auxiliar de escritório. Mas aquilo que a gente aprende sem ter tanta vontade(mas sem que haja uma cobrança explicita pelos resultados) com os anos valorizamos e nunca mais esquecemos, e agradeceremos aos pais depois( tardiamente) por nos forçarem a fazer o tal do " Curso de Datilografia".
Por este mesmo motivo, questiono as escolas, a nós, pais, e a todos, se não é vantajoso voltarmos no tempo em vinte anos.Ao menos nos lembrar o que é uma máquina de escrever.
Até hoje lembro com saudade onde ficava a escola.
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