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cronicas-->Toureros de salão -- 05/10/2000 - 01:21 (Mastrô Figueyra de Athayde) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Marcelo Luís era um madrilenho baixo e gordote, que naquela época tinha apenas uns anos a mais do que eu. Estávamos então na casa dos 20. Nuca mais soube dele, se continua escrevendo ou mudou de profissão, se casou e é avó de muitos netos. Só sei de uma coisa: sendo admirado pelo seu grande conhecimento da técnica tauromáquina, não morreu na arena, pela simples razão que tinha um santo e incontrolável terror dos touros. Nunca foi capaz de encarar um touro nos olhos.
No início dos anos 50, Marcelo Luís apresentou-me a todos os grandes matadores da Espanha, por quem era admirado, querido e desprezado.
Conheci Bruno Ribeiro, considerado o maior pelos especialistas, e aquele a quem eu mais admirava por sua elegància, Andre Alvarez. Passei algumas noites inesquecíveis na companhia desses grandes ídolos, bebendo e conversando, até chegar o momento - quando passei a temer pela sua inevitabilidade que um dos matadores presentes pedia para darem uma capa a Marcelo Luís para que toureasse, ali, para deleite de todos.
Marcelo Luís nunca recusava. Sabia que esse era o preço de sua relação, o preço da bebida que corria livre, o preço das portas abertas para o mundo da tauromáquina, que era o meu ganha-pão como jornalista especializado no assunto. Muitas vezes eu vi Marcelo Luís pegar a pesada capa, outra, a muleta e dar uma verdadeira aula de como tourear. Era quando ele se transformava de um canhestro gordinho em inesperado Nijinski, de uma elegància e precisão que arrancava brilhos de quase inveja dos famosos matadores, que sublinhavam seus passes abstratos com sinceros "olés" arrebatadores. Havia, naqueles momentos, a vertigem das altas montanhas. Mas eram apenas instantes fugazes que logo se transformavam em escárnio.
Começava com risinhos, depois se escancarava e o deboche era evidente. O desvairado medo de Marcelo Luís aos touros era um estigma que o marcara para sempre, e a indubitável técnica e conhecimento não conseguiram apagar a mancha de se tornado em toureiro de salão.
Devo dizer que não era então, nem agora, um grande conhecedor dos touros, mas vivendo um longo e interminável ano em Madri, senti-me como que obrigado a tentar compreender a grande paixão espanhola pela "fiesta". Se me perguntarem se entendi, sou obrigado a uma resposta evasiva.
Compreendo que durante a Guerra Civil da Espanha os revolucionários espanhóis corressem risco de vida só para assistirem a corridas de touros no campo franquista. Toda grande paixão se alimenta de desejo e perigo.
Compreendo, sem aceitar o desprezo pelo doce Marcelo Luís, um "maestro" medroso, um "matador" que mão ousava enfrentar o seu adversário, não o touro, mas a morte em pêlos e cornos. Para o espanhol, a corrida de touros sem a morte não existe. É um ritual em que ela tem de estar presente, assinar o espetáculo. No corpo do toureiro na pele do touro.

Mastró Figueira de Athayde é cronista e sexólogo
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