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Poesias-->Sem pé, e sem cabeça. -- 02/01/2007 - 20:32 (Marcodiaurélio) |
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SEM PÉ, E SEM CABEÇA
Sou o silêncio e a zoada
nas razias do sertão
sou os dedos de uma mão
do vento sou redemoinho
do braço sou o seu punho
do aboio sou a toada
das portas, sou a fechada
das pedras sou o lajedo
da carreira eu sou o medo
do grito a presepada...
Numa noite enluarada
eu sou uma assombração
das veias do coração
eu sou a que faz entrada
e a cada resfolegada
dou passos de sete léguas
corro mais que vinte éguas
de jeito agalopado
escada só de sobrado
esteio só de pau-ferro...
Livrai-me de meu inferno
minha santa abençoada
me tire dessa calçada
me bote logo pra dentro
que já estou sentindo o vento
montado na meia-noite
me livre desse açoite
cruel e desventurado
me leve pro outro lado
dormindo que nem um anjo
ouvindo baixinho um banjo
com cordas de caroá
debaixo dum juazeiro
na sombra do mês de abril
Me diga, quem foi que viu
enfieira como essa
dita assim com pouca pressa
sem ter pé e nem cabeça
me diga, tem quem mereça
ouvir uma conversa dessa?
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