Usina de Letras
Usina de Letras
135 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62181 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10351)

Erótico (13567)

Frases (50584)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140792)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Dor De Barriga Cavalar -- 14/12/2005 - 01:22 (wagner araujo da silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dor De Barriga Cavalar – 08.Dezembro.2005 – 02:22

Hoje é segunda-feira e creio, já posso contar o que me aconteceu ontem após uma festa de casamento ontem.
Ocorre que meu compadre Aníbal finalmente levou sua amada Rosineide para o altar. Talvez nem tanto por amor, mas sim pela espingarda enferrujada que seu velho sogro insistia em lhe apontar toda vez que o assunto vinha à tona.
Aníbal é homem de poucas posses e, assim, não houve como comparar a festa dada após as exéquias, ou melhor, o casório, a um casamento no palácio de Buckinham.
No sábado um porco fora assassinado e estripado, tudo em nome do amor de Aníbal e Rosineide. E para acompanhar, aquela maldita batatinha cozida com casca e tudo e mergulhada no vinagre. Pinga de alambique e muito torresmo serviriam para o apetite de todos abrir.
Glutão como sempre, não almocei e nem jantei um dia antes para poder melhor aproveitar o rango.
Durante a cerimônia, enquanto o padre inflamado não parava de falar, comecei a sentir as primeiras tonturas. A fome somada ao cheiro das flores de laranjeira usadas para a igrejinha enfeitar estavam me deixando com as pernas bambas e com a visão perturbada. Tanto que comecei a ver querubins a voar por todos os lados.
Final de lenga-lenga, todos foram abraçar os noivos. Com tanta fome, quase comi aquele arroz cru que foi jogado sobre os pombinhos. Acabei não fazendo essa desfeita com o leitão que estava a girar com uma maçã na boca e espetado por lugar tão inglório.
O trajeto da igreja até o sítio de Aníbal foi torturante. Estrada esburacada, poeira pra todos os lados, sininhos cafonas e buzinadas pareciam as trombetas do apocalipse sendo sopradas.
Chegando ao sítio fui correndo para ser o primeiro da fila, com o pratinho de plástico cheio de farofinha na mão. Mas que nada, o suíno ainda daria muitas voltas até ficar no ponto. Apelei para o torresminho, como mandava a etiqueta da ocasião. Meio oleoso e murcho, mas para quem estava em desjejum, foi o manjar dos deuses. Uma dose de pinga aqui, um gole de garapa pura do campo ali, cervejinha gelada no barril com serragem acolá, assim foi se dando meu destempero.
Menininhas pulavam corda e menininhos atrás de uma bola de capotão murcha corriam. Não sei se por efeito da aguardente, ou se por idiotia pura, comecei a brincar com os meninos. Mal sabia que ali fora dado o tiro de largada para o maior sufoco de minha vida.
Meia hora depois, quando o porco foi decretado pronto para o consumo, abandonei a peleja e fui direto para a fila dos esfomeados. Pior, dizia que era referendado pelo presidente Lula. Fome zero.
Com generosas porções de porco saciei primeiro minha fome, depois minha gula e então, minha estupidez. Sentei-me sob uma frondosa árvore e lá tirei uma sonequinha, tal qual uma jibóia após engolir um garrote inteiro. Porém, algo não ia bem nas minhas entranhas. Sentia algo se liquefazendo e não tardou muito as contrações começaram. Um suor frio me escorria pelas ventas e um tremor passeava pelo meu corpo.
Corri para o banheiro que, por sarro do destino, ou por castigo mesmo, apresentava uma fila gigantesca. Todos com as pernas cruzadas e passando a mão na testa. Não agüentaria tal espera. Lembrei-me então de uma casinha um pouco retirada e que poucos conheciam. A sessão descarrego seria ali mesmo. Com passos curtos e firmes segui pela picada na mata.
Passei pelo poço de onde o pessoal do sítio retirava água, e mesmo naquele estado de putrefação interna em que me encontrava achei sacanagem demais.
Chegando à casinha, a decepção só não foi maior que o desespero. Algum filho de uma quenga havia a todos contado sobre ela. Outra fila lá instalada estava. Procurei uma árvore grossa para atrás dela me aliviar, mas pensar em ser chacota do casamento me fez desistir na hora. Com os mesmo passos curtos, mas não tão firmes quanto antes, rumei para o meu carro. Por precaução, tirei a camisa e forrei o banco para caso de vazamento involuntário. Fui para casa.
Metros se transformaram em léguas. Nem forças para ligar o rádio tive. Qualquer movimento fora do normal seria o estopim para uma explosão intestinal. Meu monossílabo átono, há muito batizado de Olegário, havia perdido completamente a noção de tempo e espaço. Pelo resto do caminho amaldiçoei o leitão, o torresmo e a pinguinha braba.
Ao chegar em casa não estacionei o carro. Larguei no meio da rua e com muito cuidado saí do mesmo, agradecendo por não ter feito nenhuma arte barroca lá dentro. Já na calçada, quase desmaiando, fui parado por uma dupla de pregadores que queriam propagar a palavra do Senhor. Soltei um palavrão com toda a educação, afinal, não podia me exaltar. Fui respondido com um "Deus te abençoe" e segui minha peregrinação, minha Via Crucis. Precisaria de muita benção mesmo para chegar incólume ao banheiro. Mas cheguei. Cheguei e venci. Tal qual um basculante, o lixo foi despejado. Alívio que não refrescou contudo, minha dor de cabeça.
Cansado, humilhado e com uma forte cefaléia, resolvi me deitar. Mas não consegui dormir. Girava de um lado pro outro, como um peru bêbado em véspera de Natal. Levantei-me e fui novamente ao banheiro. Descarrego II, a missão.
Dei um pulo até a cozinha e tomei um remédio para dormir. A dor de cabeça me matava. Dormi como um anjinho, acordei como um porquinho.
E agora, com licença, preciso sair para comprar outro colchão.



Wagner -





Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui