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cronicas-->Cenas do transporte Carioca. -- 06/04/2004 - 09:53 (Edson Campolina) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CENAS DO TRANPORTE CARIOCA.


A freada do ónibus denunciou o perfil do motorista que o conduzia. Antes mesmo de alcançar a roleta, coisa de três ou quatro passos, a arrancada brusca confirmou que tratava-se de mais um "piloto profissional de ónibus".
Dois pontos mais adiante, uma turma de meia dúzia de estudantes mirins da rede pública entram em alvoroço. No corre-corre caem, seguram-se nos passageiros, riem e caçoam dos colegas menos precavidos com o chacoalhar da "embarcação". Uma adolescente os acompanha. È o retrato da vida na comunidade da favela em que vivem. Vários pais confiam os filhos à uma adolescente responsável por levar as crianças até o CIEP. Pouco se vê esta prática de solidariedade na classe média ou alta. As dificuldades da vida cotidiana dessa gente aflora o espírito solidário. Menos no piloto.
Todos se seguram e se entreolham nas curvas e nas freadas. Ninguém se manifesta. Os estudantes acionam o sinal sonoro para a parada no ponto em frente à escola, mas o motorista avança até o próximo semáforo vermelho no cruzamento adiantando o horário de sua viagem. Somente as crianças manifestam-se gritando:
_ A escola piloto!
Um senhor aciona o sinal novamente. A adolescente, percebendo a intenção do motorista, reprime a gritaria da criançada. Todos, inclusive os passageiros se resignam.
No ponto adiante o motorista pára ao lado de um caminhão, abre a porta traseira para uma passageira que não consegue descer, não tem espaço. Ameaça fechar a porta. A moça desiste e continua a viagem.
O ónibus chega ao ponto de controle no centro da cidade. Enquanto os passageiros descem, o piloto, com um sorriso sarcástico, levanta-se, brinca com o cobrador e desce para um lanche.
Sigo para a estação do metró. É preciso desviar da multidão que sai. Somente duas bilheterias estão abertas, em horário de grande circulação, motivo da fila que se forma todos os dias. Desço a escada. O trem pára, me recosto ao lado da porta.
Um estudante de meia idade, tênis, bermuda e boné, lê uma grossa apostila. Um executivo cochicha ao celular. Um idoso, de pé, se equilibra segurando na alça do assento do estudante. Dois jovens de óculos escuros, cabelos molhados, imóveis, sentados de frente para uma "balzaquiana" de vestido curto, a encaram. Recostada no assento do canto do vagão, pernas cruzadas mostrando as coxas e fingindo dormir, sabia e gostava de ser observada. Contava as estações em seu sono disfarçado. Abraçava uma bolsa e levava, apoiada no chão, uma sacola de papel, destas de lojas de roupas. Sempre me aguça a curiosidade pelas sacolas que tantas levam consigo nas horas menos propícias às compras.
Aqueles que se acanham em buscar destino aos olhares, fecham-se a observar o chão, o pinga-pinga do ar-condicionado, enquanto outros filam o jornal ou a revista do vizinho. Tudo num silêncio que incomoda e intimida.
A porta se abre, saio e percebo que a "balzaquiana" levantou-se, me olhou e seguiu na direção da escada rolante. Era a primeira vez que a via. Sempre no mesmo horário, não consigo reencontrar as pessoas, seja no ónibus ou no metró.
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