Tiaara
Tiaara dormia sob uma generosa bananeira numa ilha não próxima do Recife. Seus olhos eram como seriam duas luas novas, se houvesse duas luas novas num mesmo céu. E seus cabelos dormiam com ela.
Um dia, quase igual ao dia anterior, mas diferente, pois outro dia, Tiaara acordou e olhou tudo ao redor. E tudo era igual. Então, voltou a dormir sob a mesma bananeira generosa.
Veio, porém, um dia diferente. A bananeira generosa estava diferente. Coisa de sombra, talvez. E Tiaara acordou e continuou acordada, ressaltando a diferença daquele dia.
O Recife já não estava fora de alcance. O Recife estava presente no horizonte, até que saiu do horizonte para ficar mais próximo. Tiaara percebeu: o Recife avançava pelo mar.
O não-Recife se tornava Recife. Pouco tardaria para que a ilha, onde Tiaara há pouco dormia sob a bananeira generosa, também Recife se tornasse. E seus olhos ficaram como duas luas cheias.
Tiaara, abusando de sua sobriedade, desesperou-se. Olhou para a bananeira generosa, como se fosse a última vez que a via. E seria a última vez que a via. E olhou para o Recife, já na borda da ilha, quando acordou.
Tiaara acordou de seu sonho e olho tudo ao redor. E tudo era igual. Então, voltou a dormir sob a mesma bananeira generosa daquela ilha não próxima do Recife. Seus cabelos dormiam com ela.
|