Usina de Letras
Usina de Letras
97 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62069 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50476)

Humor (20015)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6162)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Histórico Escolar – Três bombas – 1971 a 1973. -- 30/11/2005 - 01:05 (Marco Túlio de Souza) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Histórico Escolar – Três bombas – 1971 a 1973.

Sala nº 1 dos meninos e meninas que, já sabiam ler e escrever, pois tinham feito pré-primário.
A turma da sala nº 1, de vez em quando mudava algum aluno ou aluna, mas a professora nunca, era até a quarta série.
Professora - muito brava, mas muito elegante, sapato alto,batom e vestido.
Alunos - cabelo “Príncipe Danilo” ou cabeça raspada com topetinho na frente.
Sapato - de plástico “tô na merda” ou vulcabrás.
Alunas - cabelos compridos, óculos de grau, sapatos pretos e, meia três quarto.
Ricos, pobres, estudantes e, alguns amigos e amigas para sempre.
Média 8 – boa média.
Exame de admissão – só fiz as provas - média 5,2, eu acho que eles me deram 2 (dois pontos), só para não ficar muito feio – média 5,0 ia ficar na cara que eles tinham me passado para 5a série.
5a série – turno da noite – me jogaram no covil dos leões; um monte de repetente, bagunceiro, vagabundo e marginal.
Não sei nem como, eu passei para a sexta série, era só bagunça, e eu apesar de ter uma tendência para a bagunça, no meio daqueles “leões e leoas”, era um cordeiro.
No começo foi muito complicado, eles não me deixavam estudar, o pior é que eu já não era muito chegado a estudar, simplesmente aprendi; jogar tótó (jogo de futebol com uns bonecos, sinuca), fumar, beber e matar aula.
6a série – sala XXI - M – turno da manhã – ai, eu empaquei – três bombas seguidas.
Eu, com todas as maldades da noite, encontrei uma turma completamente louca.
Juntou “a fome com a vontade de comer”, só bagunça e bomba. Ninguém passava de ano.
A cada ano piorava, pois todos alunos que, tomavam bomba nos outros colégios (estadual, polivalente e outros) vinham para onde? Para o colégio dos excluídos, tudo que não prestava nos outros colégios "maconheiro, bebum, piranha, viado, , brigadores, caretas pirados, meninas burguesas com ‘cara de quietinhas’,só mal-elementos". Juntavam com quem? Com a turma da XXI - M, é claro, ai virava uma dinamite.
Eu, e mais uns seis, já entravamos na sala e o professor já dizia – tá vendo esse diário, eu passo vocês, mas por favor! Vocês não precisam nem assistir as minhas aulas.
Algumas meninas tomavam bomba (por tabela, estavam no lugar errado, na hora errada, outras não, eram sacanas mesmo, gostavam era de bagunça).
Tinha professor, que até chorava dentro da sala, tentando dar aula.
Outros eram mais espertos, ficavam amigos (faziam vistas grossas para as aprontações) da galera, para poder dar aula. De vez em quando mandavam alguns para fora da sala, para dar moral, mas não adiantava nada, a galera adorava ficar no corredor.
Alguns professores:
Professor de desenho - um dos melhores, passava todo mundo, tocava violão na sala e, quando perdia o controle da turma, ia lá no fundo da sala (onde ficava os mal-ditos), fingia que batia em alguém e, a gente adorava, fingia que, estava torcendo o braço de alguém, empurrava para fora da sala e, ficava falando “ta vendo como se tira o demônio da sala”, ninguém matava esta aula.Tinha dias que ele me dava o diário, mandava dar falta para os números pares, independentes se eles estivessem na sala, ou não.Outro dia era os impares, mas mesmo tomando falta ninguém saia da sala.
Professor de matemática – sabia muito – careta demais – tinha prazer em dar bomba.
Professora de geografia – tinha umas pernas bonitas, mas era muito chata.
Professor de Educação Física – era um soldado, nunca nos prejudicou em nada – só sabia dar polichinelo e apoio sob o solo
Professor de historia – idiota – tirano – fofoqueiro, achava que mandar era punir.Adorava dar bomba.
Professora de português – uma dama – falava baixo – muito educada – nunca precisou dar um grito, ou punir alguém – era o nosso xodó.
Professora de inglês – boa pessoa, mas muito triste.
Professora de Ciências – séria,mas de vez quando interrompia a aula e, perguntava – porque vocês ficam fazendo careta pra mim, quando eu viro para o quadro? Não aguentava, e começava a rir. Dizia – que palhaçada é essa de desenhar bonecos enforcados nos exercícios que, eu dou.Quando dava o sinal ela tentava sair correndo da sala, mas a gente não deixava, abraçávamos ela e pedíamos para carregar a bolsa até a diretoria, coitada era tímida, ficava toda desconcertada,com aquele bando atrás dela,– ela, ria, xingava e,dizia – cambada de doidos.Depois de muito tempo, conversando com ela – ela me disse – vou te confessar uma coisa, na secretária todo mundo reclamava de vocês e,eu, sempre dizia, uma das coisas que mais gosto de fazer neste colégio é dar aula pra eles, eu nunca vi alunos tão divertidos e educados.
Professora de religião – muito simples – educada – boa pessoa – ficava brava quando a gente resolvia questionar as coisas só para zoar – ela falava em Adão e Eva – nós começávamos a retrucar – mentira o homem veio do macaco, nesta altura já tinha um imitando macaco, perto do quadro negro.

Punição de nove dias era muito ruim – levantar cedo – ficar perambulando com aquele monte de gente uniformizada, pelas ruas distantes, até a hora do sinal, sem fazer nada, pra poder chegar em casa.
Quando acabava a punição, era foda, os aluguel viam a gente no portão e, começavam – os turistas voltaram, bem feito, apronta mais. Os caras de pau, logo, já se ajeitavam de novo e não demoravam muito tomavam outra punição.
Algumas punições:
- jogar cobra (morta) no banheiro das meninas, só pra ver elas saírem peladas e correndo.
- brincar de carrinho de batida (de parque) com as carteiras, dentro da sala.
- resolver sair todo mundo da sala, marchando.
- distraiamos a professora, pegávamos a chave do carro dela, um pedia para ir ao banheiro, depois via se o portão do colégio estava aberto, saia rápido, entrava no carro, abaixava o freio de mão e descia o carro um pouquinho, voltava entrava na sala e, despistadamente, punha a chave em cima da mesa, sentava e, na maior cara de pau perguntava – a senhora veio de carro? Ela – respondia, sim! Mas abria a porta da sala e, não via o carro na porta do colégio, saia igual uma louca, punição na certa.
- virar “Gambá” – todo mundo se lambuzava de arruda (planta fedorenta), fechávamos as janelas, a sala ficava um fedor, não tinha como dar aula.
- uma vez a professora de religião, disse que iria ter um concurso no colégio, sobre a Bíblia e, o primeiro colocado ganharia um projetor de slides.Para nós o projetor de slides, era um sonho, pois dava pra fazer as nossas novelas e filmes, mas tinha um porém, apesar de termos sidos criados na doutrina católica, ninguém sabia nada de Bíblia.Pegamos o gabarito na diretoria e, eu e mais um, passamos em primeiro lugar.Foi um alvoroço no colégio, como que aqueles meninos passaram, recebemos parabéns (com aqueles olhares de desconfiança).O pior veio depois,nós não sabíamos que para ganhar o projetor de slides, nós teríamos que concorrer com as meninas do colégio de irmãs católicas.Lá fomos nós e apesar dos chutes não acertamos nada.
Uma vez, eu, sem querer acertei um saquinho de pipoca cheio de água na cabeça da mulher do diretor do colégio (no segundo horário), na mesma hora me chamaram na diretoria e, resolveram me dar punição. Eu, pedi perdão, pedi desculpas, pois já vinha de uma punição de três dias, então, eu disse, a quadra do colégio tá muito suja, vocês me dão uma vassoura, eu, limpo a quadra e a arquibancada, e vocês não me dão punição, tudo bem. Aceitaram a minha sugestão . Peguei a vassoura, fui varrendo, numa boa. O sinal do recreio tocou, e lá estava eu, varrendo a quadra, quando os mal-ditos me viram varrendo, ficaram rindo e gozando a minha cara, mas a minha querida namorada teve uma brilhante idéia, arrumou uma vassoura, e foi me ajudar. De repente deu o sinal do fim do recreio e os mal-ditos resolveram não entrar para a sala, todos queriam uma vassoura para me ajudar (ajudar nada, eles não queriam era assistir aula), só sei que, virou um mutirão no colégio e deixamos, não só a quadra, mas os corredores, tudo limpo.


Hora do recreio – pegávamos os saquinhos de pipoca doce, vazios, enchíamos de água e, coitado de quem estava comprando lanche na cantina (ficava no andar debaixo do prédio do colégio) era só barulho de saquinho explodindo na cabeça de alguém, aluno, professor, servente, era aquela festa.

Primeira bomba – motivo – não marchei no Sete de Setembro, cai de bicicleta um dia antes, machuquei muito e não levei atestado médico.
Segunda bomba – motivo – na hora do recreio tinha aquelas meninas que, não saiam para merendar, ficavam merendando na sala.Entramos na sala, fechamos a porta, e fingimos que íamos agarrar as meninas, uma achou que era verdade, correu e bateu a cabeça na cadeira (nada grave), ela nos perdoou, mas o diretor não. Como diz o ditado “quem tem fama deita na cama”.
Terceira bomba – motivo – pegamos o gabarito de uma prova de inglês na secretária, todos tiraram nota máxima, mas em compensação, bomba em todo sala, não escapou ninguém.

No fim do ano – já tínhamos tomado bomba em outubro.

Mas o mais importante é que a sala XXI –M deixou muita saudade pela liberdade e alegria em tempos de ditadura. E quando vai chegando o final do ano, sempre ficamos na expectativa de rever alguns desses personagens, para podermos rir um bocado.
Desta sala alguns já se foram.
Outros viraram advogados, delegados, médicos, escritores, professores, professoras, cantores,músicos, madames,donas de casa, mas quando se encontram viram alunos da XXI – M. Período das bombas 1971 a 1973.

Autor:Marco Túlio de Souza
Todos os direitos reservados ao autor.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui