Prezado Sr. Pereira,
Você não fuma? Que bom! Eu fumo há quarenta anos. Já passei dos cinqüenta e oito bem vividos e com uma saúde invejável. Recentemente, ao fazer o meu check-up anual, o meu médico me perguntou se eu continuava fumando. Com a resposta positiva, ele sorriu para mim dizendo, desde que eu sentisse prazer, que eu continuasse com as minhas baforadas. Esclareço que esse fato se passou numa clínica de primeiro mundo, em New York/USA. A intransigência e a falta de tolerância acho que matam as pessoas mais depressa. Todos nós vamos morrer de uma maneira ou de outra, mais cedo ou mais tarde e dizer que o fumo é causador de encurtar vidas é balela. Cito exemplos práticos e familiares: a minha avó materna morreu aos quarenta e seis anos de angina sem nunca beber nem fumar; o meu avô materno, bebeu, fumou Iolanda azul e Iolanda branco (nesse tempo ainda não existia Hollywood) sem filtro além de charuto, viveu até os setenta e seis anos e muito potente: fez dois filhos em idade avançada no seu segundo casamento. Meus pais fumaram toda vida e descansaram aos setenta e cinco (mãe) e setenta e sete (pai), poderiam viver mais, decerto, mas viveram mais do que James Dean e os Mamonas Assassinas. Meu irmão mais velho nunca fumou e já sofreu um enfarte.
Seus artigos tendenciosos, alarmistas e terroristas contra o tabagismo em nada diminuiu em mim a vontade de fumar. Não me meteram medo tampouco, pois a maioria das celebridades citadas neles morreram com mais de sessenta anos. Acho que não tem nenhum da sua lista que morreu adolescente nem com vinte ou trinta anos. Não quero dizer com isso que todos peguem um cigarro e fumem. Sou pela livre escolha: fume se quiser. Boas campanhas por essa ou aquela causa, podemos fazer, sim. O patrulhamento é que é deselegante. Já imaginou se o senhor implica também com os carros que poluem o "purificado ar" que respiramos? Dióxido de carbono também mata, danifica as células epteliais, deixam odor na atmosfera e nas roupas, destrói a camada de ozônio e nos expõe ao câncer de pele. O uso do veículo faz barulho e irrita. O motor, as buzinas, o bater de portas, as freadas bruscas... Não contemos aqui com a agressão e a violência no trânsito das grandes cidades e estradas, e dos que se foram — esses sim, alguns muito novinhos! — por imprudência ou fatalidade. Cito algumas celebridades para engordar as estatísticas: Isadora Ducan, James Dean, Princesa Grace Kelly, Maysa, Princesa Diana, JK, Chico Science, Jane Mansfield, Francisco Alves, Drazen Petrovic... a lista é imensa! E o avião? Hum... como polui o ar e faz tanto barulho! Como encurtou a vida da bela Leila Diniz, calou as vozes de Agostinho dos Santos, silenciou os Mamonas Assassinas, nos privou do belo John-John Kennedy, sua esposa e cunhada de um só golpe... todos esses na flor de suas idades com tanta coisa ainda para dar para a humanidade. E a lista continua com o ex-Presidente Castelo Branco, Ulissis Guimarães, todos do vôo da TAM e do Concorde e de outros vôos...
Podemos ficar o resto da noite descrevendo as coisas que matam e encurtam a vida: agrotóxicos, ovos, frituras, carne de porco, plástico, spray, uso da geladeira, raios do sol, açúcar, raio X, gasolina, parafina e tudo mais que nos rodeia. Acho que a solução é nascer, entrar numa cápsula esterilizada e viver eternamente e sem prazer. Ou, quem sabe, sentar e esperar que o Grandão lá em cima dê um clique no Seu ratinho e diga: Chega de pertubar aí em baixo, deixa os outros viverem em paz, chegou a sua hora!
Abraços esfumaçados
Fernando Tanajura
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