Palavras
Engulo as palavras sem entender de onde vem
e depois as cuspo.
Escravizá-las é crueldade, mas alivia.
Trazem todos os presságios da existência,
até mesmo os questionáveis.
Passam como túneis e me levam,
desesperam e me comem sem sequer me digerir,
tão somente me abraçando- e eu chamando
como num barco de pano- como em mar de papelão...
e não encontro a canção.
Parecem trens desordenados,com almas retangulares:
palavras vivas e desajeitadas, coloridas e sem cor.
Palavrinhas, palavrões - sem pudor e sem licença.
Locomovem corações, desajeitam discrições e me apontam,
como flecha, as emoções.
Resgato em filmes mentais – como arquivo - más palavras
e as enfeito como luas.
Transformadas e esquecidas, rotuladas, ficam mudas.
E na rua de barulhos com vestígios de carro
surgem todas as palavras,
como estalo- e me enlouquecem...
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